sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sexta, nem tanto independente...


Era um lugar bem alto. Sem fronteiras. Eu estava em cima de um bloco de azuleijos cinzas. À medida que eu andava sobre este bloco, o meu chão sumia. Como mágica. Até que, finalmente, só me restava um único pedaço do solo. Não dava mais para andar. Eu ia cair. Sentia que ia cair. Quando...acordei.


-E o que aconteceu?
-Como?!
-O que aconteceu ontem com a Ana? Ela está diferente!
-Está?! Não percebi...
-Sim! Ela não conversa mais com a gente. Não fala com as amigas. Não sai mais do quarto. E nem dos estudos ela quer saber!
-Talvez esteja cansada!
-Não, não está. Andei bisbilhotando. Ela não faz nada. Fica o dia inteiro fingindo de boa moça. Abre um livro e logo desiste da leitura. Senta na janela e fica olhando o céu o dia inteiro...
-E se...
-Eduardo, até porcarias ela deu pra comer! A menina não come uma fruta! Só quer saber dos biscoitos recheados! Esconde um bocado deles dentro da gaveta da cômoda.
-Por que você não conversa com ela e descobre o que está acontecendo?
-É isso mesmo que vou fazer!


Droga. As coisas estão começando a mudar. Ninguém me entende! Meus pais não acreditam mais em mim. Não sei o que fazer...Droga, mil vezes droga!


-Olha aquele Beija-flor!
-O que tem?
-Sabia que ele bate as asas 80 vezes por segundo?
-Sério?!
-Sim! Não é engraçado observar como ele brinca com as flores?
-Ana!
-Oi?
-O que está havendo com você? Fala pra mamãe!
-Olha como ele é rápido e livre!
-Não muda de assunto Ana!
-Não estou mudando mãe! Observe! É como o Beija-flor! Por mais que ele seja livre, solto, sempre tem alguém o observando, o admirando, tentando entendê-lo...
-...
-Mãe! Os Beija-flores são muito interessantes. Eles são independentes! Vivem sozinhos desde quando abandonam o ninho. Nem por isso deixam de ser bonitos e felizes. Quando estão mantidos em cativeiro a vida perde a graça pra eles.
-Não te entendo!
-Não sou mais uma menina, mãe! Já está na hora de você me permitir voar para longe do ninho, e não me colocar em uma gaiola! Estou perdendo espaço. E, se for tarde de mais, minhas asas atrofiarão, então, não terei coragem de sair desse espaço criado por você, e aqui eu não aprendeirei sobre o mundo. Sobre como é a vida lá fora. Quero que você me entenda mãe! Não me vigie, apenas observe! Me deixa ser livre!


A noite começava a cair, as primeiras estrelas surgiam no céu. O silêncio dominava aquele espaço. A menina se sentia mais leve.


-Quero ser livre! Quero, muito, ser livre -Repetia em pensamento-.


O último azuleijo do chão estava ficando transparente. Meu coração disparou. Sabia que ia cair. Sabia que ia cair. Caí...

Nenhum comentário:

Postar um comentário