sexta-feira, 17 de julho de 2015

Quando em 2007....

O cheiro de café desprendia da xícara com tanta delicadeza que inundava, aos poucos, aquele pequeno espaço que costumo chamar de quarto. No momento o único som que conseguia ouvir era o da minha própria respiração que ora era interrompido pelo pigarro seco da minha garganta alérgica. Julho sempre foi muito difícil por isso, o tempo esfria, fica seco e a rinite logo ataca. Sentado de frente para janela me ponho a observar a noite silenciosamente. Os pés frios, encobertos inutilmente por meias que não foram capazes de mantê-los aquecidos. O gosto doce de xarope de tosse ia se dissipando a cada golada que eu dava naquele café, agora frio. Uma risada vindo da rua quebrou, momentaneamente, o silêncio servindo apenas pra interromper aquela enxurrada de pensamentos desconexos que atormentavam minha cabeça naquela noite silenciosa de sexta-feira. A gata solitária do lado de fora do quarto miou clamando atenção, inútil. Três toques: mensagens no WhatsApp. Suspirei. Não importa. A noite hoje está fria, pensei. Céu sem estrelas, apenas um avião piscando ao longe cortando aquela imensidão escura. Pensei em ligar a TV. Bobagem, não tem nada que presta lá mesmo. Liguei o computador e pus Yann Tiersen pra tocar. Quanto tempo que eu não ouvia Yann Tiersen. Mentalmente viajei pra 2007, quando nas tardes de segunda e quarta-feira eu costumava por algumas horas me sentir o serzinho mais feliz do mundo. Aquelas aulas de teatro onde eu me desligava de mim mesmo e vivia aquele momento. Quantas vezes eu vivi um momento pelo momento em si tendo plena consciência de que eu estava vivendo O momento e nada mais? Entende? Não importava se eu ia ter aula de inglês depois dali e não tinha feito a lição ainda, ou se eu ia conseguir carona pra voltar pra casa. A única coisa que me importava de verdade era aquela aula de teatro. O engraçado é que não consigo lembrar quanto tempo duravam as aulas. Acho que quando a gente vive um momento,não importa quanto tempo ele dure, a impressão que fica é sempre que você simplesmente viveu. Não gastou 1 ou 2 horas mas sim uma vida ali. Nostalgia. Se uma coisa eu aprendi com aquelas aulas e levo sempre comigo é que cada momento é único. Clichê. Mas, mesmo que você tente reproduzir todas as características que fizeram aquele momento, as circunstâncias nunca serão as mesmas. De repente começou a tocar "Le Moulin". Fechei os olhos. Incrível o poder da mente. Senti o cheiro da cera do taco da madeira do chão daquele velho auditório. As cortinas empoeiradas que permitiam passar pelas altas janelas pequenas frestas da iluminação daquelas tardes e que graças a elas, vez ou outra era possível ver os floquinhos de poeira dançando pelo ar. As vezes que, depois de tanto rodar e dançar as músicas do Yann eu me jogava naquelas poltronas velhas de couro com o apoio dos braços desgastado pelo tempo. Fiquei nesse frenesi por minutos.

De volta à realidade, lá estava eu. Ainda de frente pra janela, roçando um pé frio sob o outro. Fitando o céu negro daquela noite gelada. Oito anos depois e eu me via exatamente do mesmo modo. Mas, ao mesmo tempo, completamente diferente. Cara, envelhecer é isso? A vida nos ensina a perder a ingenuidade e ao mesmo tempo a ganhar responsabilidades que nos faz experientes. Somos treinados o tempo todo para sermos donos da nossa própria vida quando finalmente "crescermos". Nos ensinam matemática e português mas principalmente a escolher a futura profissão. Aquela falsa ideologia do "o que vou ser quando crescer". Aos 23 anos, percebo que preciso fazer as coisas por mim mesmo. Sozinho. E que não me prepararam para fazer escolhas. Medo do desconhecido. Deve ser essa a crise dos 20 e poucos né? Enfim, o que eu quero dizer é que quando a gente cresce a gente perde o foco do agora. Tende a pensar mais no amanhã. É sempre: o que vai ser de mim? O que eu posso fazer por mim? E nunca o: O que eu faço por mim? O que eu sou? Não quero ser um adulto chato. Mas também não quero a ingenuidade de volta. Só preciso viver mais os momentos. Momentos como esse, de solidão em frente a janela. Viver meus momentos de fraqueza pra enfim tentar entendê-las. Encarar, enfrentar, resolver. Não ter medo de errar e não me julgar as vezes que eu fracassar. Me permitir agir por mim mesmo, meus ideais, minha existência. Viver os tapas na cara que a vida dá e aprender com o diferente. Saber me dar o meu tempo. Viver momentos. Viver mais e sobreviver menos.

Abri a janela. Deixei a gata entrar. Aumentei a música e continuei por um bom tempo vivendo aquela noite solitária de sexta-feira. Porque aquela solidão também fazia o meu momento.


terça-feira, 2 de abril de 2013

Louca epifania

Certamente atrasaria. Essa chuvinha, mesmo que rala, é sempre motivo para o trânsito virar um caos. Ainda mais que se tratava de uma sexta-feira à noite, onde, inexplicavelmente, as ruas se entopem. Um misto de pessoas que se desesperam para chegar logo em casa depois de uma árdua semana de trabalho, com outras que, mesmo cansadas de seus compromissos semanais, anseiam por momentos de diversão e distração com os amigos nos grandes points da cidade. Mas o engraçado mesmo é que em dias tão quentes, uma simples chuva sempre vem acompanhada de um frio singular que destaca. E, independente da origem, frio sempre me agradou.

As horas passavam bem devagar, não sei se era pelo fato de saber que você atrasaria ou pelo fato de estar muito ansioso. Não importa, havia chegado mais cedo justamente para aproveitar cada momento daquele dia. E a ansiedade em te ver, era um deles. Pois, mesmo cruel por me desesperar, era gostosa porque sabia que iria matá-la muito em breve.

 Sentado em frente a porta, via as pessoas chegarem com seus guarda-chuvas, trazendo pra dentro um pedacinho daquele clima úmido que  impregnava a cidade naquele momento. Em meus devaneios, me distraia com esses acontecimentos, tão usuais, até ser despertado pelo garçom que trouxe pra mim o cardápio na espera de que, enfim, eu pedisse alguma coisa. Agradeci e continuei sonhando acordado, só que dessa vez folheando página por página daquela lista de coisas que, por ventura, eu haveria de querer. E que tinha muitas coisas desejáveis, menos você, que era, de fato, o que mais queria ali comigo. Tão longe, e tão perto. Era assim que me sentia. Meus pensamentos navegavam numa epifania de sentimentos adormecidos, que soavam como resposta de algo que eu não sabia se queria que acontecesse, mas que já estava acontecendo. Minto. Que já tinha acontecido faz tempo. Sem perceber, você chegará, abrirá um sorriso do tamanho do mundo, que só você consegue, capaz de iluminar ambientes. Contará como a chuva te atrapalhou a chegar até ali, me lançando vez em quando olhares tímidos, cheios de ternura. Me conquistará ainda mais com esse seu jeito meio moleque de ser às vezes, mas sempre com muita responsabilidade. Beberemos e conversaremos durante horas trocando, entre sorrisos e olhares, muitos beijos. Beijos de todas as formas. Beijos quentes, tímidos, avassaladores, secos, molhados, macios, ríspidos, cativantes, uma infinidade deles. Mas todos tão seus, tão meus, tão nossos. Não importa, eu saberei que jamais irei esquecê-los. Depois de tanto papear, andaremos na rua de madrugada, como quem não tem medo do que pudesse acontecer, porque naqueles momentos nada mais importará, só estar perto de você. Transaremos como loucos que somos. Conhecendo o corpo um do outro, a alma um do outro, a essência um do outro. Sentir tudo isso transcendendo em mim pelo sabor do seu sexo. Pela energia mais pura e cativante que nossas almas tem ao se aproximarem tanto uma da outra. Gozos de prazer, sexuais e espirituais. Certeza que nossa química será muito boa. Mais do que isso. Nossas sintonias caminharão juntas, como dois gigantes a desbravar o mundo, a vida. Dormiremos abraçados, um protegendo o outro dos sonhos ruins. Acordarei primeiro admirando, ao seu lado, suas feições ao dormir, sereno, sem muitas preocupações que te tirassem o sossego. Passado alguns dias, morreremos de saudade um do outro. Loucos de vontade pelo próximo encontro. E quando ele acontecer ficaremos juntos como se não houvesse o amanhã. Conhecerei sua casa, onde você cultiva um mundo seu, do seu jeito. E eu não vou querer mais ir embora. Conhecerei sua família e você a minha. Serei tímido como jamais fui. As pessoas mais importantes pra você começarão a me marcar também. Cada um, com sua peculiaridade, crescendo em mim a cada dia. Viveremos algo tão intenso durante dias, meses, anos. Durante muito tempo. Algo que eu jamais vou querer que acabe. E que, se um dia acabar, jamais esquecerei. Pois, mesmo que não seja eterno, um grande amor sempre deixa rastros. E a gente sempre sabe quando se está diante de um grande amor, mesmo quando ele ainda é só uma sementinha prestes a crescer. Porque nascer, ele já nasceu faz tempo.

Tão longe e tão perto. O otimismo crescente de sensações boas prevaleciam dentro de mim quando eu pensava em você. Sorria sozinho naquela cafeteria. Certamente pensariam que sou louco. E, talvez eu seja. Louco por me desligar daquele mundo frio e chuvoso, onde todos viviam em seu caos diário. Louco por estar tão longe daquela realidade toda, mas tão perto da minha realidade. Era fato que eu estava apaixonado.  E, talvez eu devesse ser louco por entrar de cabeça, como num primeiro amor, onde tudo é intenso demais, onde tudo é puro demais. Louco por ainda me permitir gostar, sem medos, sem medidas. Podem me chamar como quiserem. Pois, foi assim, com você chegando sem que eu percebesse com um sorriso do tamanho do mundo acompanhado de um olhar que me despia a alma que eu tive certeza de que valia a pena ser louco. Que a sementinha já havia sido plantada.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quem sou eu?

Do quarto escuro ele ouvia o som do dia lá fora o chamando. A luz se espremia nos minúsculos feixes de madeira da janela despertando, inutilmente,  a penumbra. O cheiro do lençol limpo se espalhava da cama às paredes, embriagando com aquele aroma artificial quem ali estivesse. Era tarde, quase meio dia daquela manhã de janeiro. E a harmonia inóspita daquele recinto sombrio continuava intocável, inabalável.

Suspirou. Passou a mão nos lábios secos, desprendendo, em seguida, a língua do céu da boca, onde se encontrava pregada com a saliva pastosa que lhe dava um certo gosto amargo de quem estava a horas em jejum. O olhar fixo no teto do quarto se quer se incomodava com as remelas que se alojaram no limiar de seus olhos. Com esse olhar vazio, o tempo passava enquanto se esforçava pra não pensar em nada. O cabelo, amassado no travesseiro, o esquentava causando um certo desconforto que anunciava a hora de se movimentar na cama. Permaneceu imóvel. Tudo que se ouvia era o som dos pássaros cantando na varanda lá fora, os carros que vez ou outra passavam pela rua e a sua respiração, que saía quente e num ritmo compassado até se misturar ao ar inerte daquele quarto. Tudo parecia morto.

Ei! Quem é você? Sou uma mente pensante, nada mais. Nada mais? Nada mais...E como numa música, num ritmo desconhecido, sua cabeça vazia foi preenchida de pensamentos sem fim, reflexões sem reflexos. E assim, foi tecendo uma linha, não muito contínua, mas bem confusa de raciocínios angustiantes. O que é estar vivo? É cair na inconstância de mim mesmo. Num abismo sem fim. E o que faz de você um ser vivo? Justamente essa bipolaridade. Esse conflito de pensamentos que me fazem mudar de ideia a todo instante. Esse tapa na cara de sonhos utópicos. E o gostinho amargo do fracasso que faz questão de me mostrar que ainda estou vivo, sinto. Você ainda sonha? Tolo é quem diz que não. Sonhos ou pesadelos são todos frutos do desejo e medo, de tudo aquilo que desconhecemos. E viver é desconhecer. Mas, e o tempo? O tempo é o de menos. Ele da fim à vida, mas também começa ela. Somos prisioneiros do tempo e isso não muda nada. Mas, e você? Eu? (Suspirou). Boa pergunta.

O quarto continuava inerte e sombrio. Porém, alguma coisa começava a mudar. O olhar, ainda fixo no teto já não estava mais vazio. Parecia ter encontrado seu foco, algo que valesse a pena olhar, buscar, admirar. A pupila, antes dilatada, agora estava densa, apontando com precisão o alvo com toda a certeza de sucesso. Uma mira infalível.

Então. Quem sou eu? Sou uma mente pensante, nada mais. Nada mais? Muito mais. Sou dono de mim mesmo. Eu vivo a realidade de um sonho. O sonho de estar vivo. E poder fazer do hoje o diferencial de ontem. Aprendizado, reflexões, conclusões. A teoria praticada. Mas e você? Eu? Eu estou bem. Sofrer é inevitável, a tristeza é real. Mas às vezes é preciso viver a angústia pra se conhecer a harmonia. É preciso afundar no poço pra se conhecer a saída, que muitas vezes, é subterrânea.
Abriu a janela, deixou a luz entrar. Já era mais de meio dia. Mas o dia só estava começando.

sábado, 1 de setembro de 2012

Lua azul

Dizem que a Lua tá azul. Blue moon. Dizem também que é raro esse fenômeno, cerca de dois em dois anos, sei lá. Duas luas cheias num mesmo mês. E ela tá tão bonita. Você devia olhar mais para o céu, sabia? Eu sei que você também viu a lua hoje. Mas só porque é um fenômeno raro e todo mundo estava comentando sobre, fala a verdade. Pois é, tem que olhar pro céu todo dia. Ele me acalma tanto.

Às vezes a gente fica tão focado nos nossos problemas, na nossa rotina, naquele ciclo tão pequeno que nos cerca que esquecemos que o mundo é muito maior. Sim, muito maior que essa vidinha medíocre a que gente leva e acha que arrasa.  Daí, quando eu olho pro céu, é como se sentisse o tamanho do Universo e percebesse que, na maioria das vezes, me desgasto por tão pouco. Cada mágoa é um pedaço da alma que é arrancado, sabia? E cada vez que eu olho pro céu e tenho essa sensação de que a vida é muito maior do que os limites que meu cérebro me impôs, minha alma se regenera. Vem aquele impulso de esquecer o passado, focar no futuro e viver o presente rumo aos sonhos que me preenchem e me fazem querer dizer um dia: Eu venci a vida. Entende? Eu sei que sempre vão existir problemas, que serei magoado, frustrado. Que encontrarei dificuldades, viverei rotinas. Sei que um dia desanimarei frente aos obstáculos, estes que surgirão aos montes. Sei disso. Mas, o que eu tô querendo dizer é que, independente disso tudo, sempre existirá o céu lá, dizendo pra mim que o mundo é muito maior que qualquer coisa. E daí, quando isso acontecer, quando eu perceber essa imensidão de vida, eu serei como a lua azul. Quebrarei as regras e estamparei, divinamente, o céu da minha vida. E, embora raro, serei um fenômeno de mim mesmo, iluminando meus caminhos com a minha luz própria que, aquele dia, brilhou mais forte. E, então, o impossível tornou-se possível.

domingo, 5 de agosto de 2012

Aos cacos

Meu coração são quinhentos e vinte e três cacos unidos um a um como um quebra-cabeça de criança. Ele já foi inteiro como um jarro de vidro que vez ou outra carrega algumas flores e encanta as pessoas. Mas um dia ele caiu. A primeira vez partiu em dois. Da segunda, trinta e dois. Da terceira, cento e seis. E agora, quinhentos e vinte e três.  Por que coração quebra tão fácil? Quebra tanto que nem parece mais um coração. Será que um dia ele vai parar de quebrar? E se parar vai continuar a funcionar?

Meu coração são quinhentos e vinte e três cacos. Duzentos e doze pra você e o resto pra mim. Afinal, tenho que ficar com a maior parte, né?! Não importa, já é caco mesmo...Ei, já que você quebrou ele mais um pouquinho, me devolve os cacos pelo menos! Dá aqui pra mim, pra eu tentar colar! Pra você são apenas cacos, mas pra mim não. É o meu coração, entende? Inteiro ou não, ele é meu, parte de mim. E, pra mim, ele tem importância. Não ligo se funciona ou não, eu quero de volta! Sou igual criança quando seu brinquedo preferido quebra: tento, por mais impossível que seja, reconstituí-lo de novo.Primeiro choro bastante, porque a angustia de ver algo que eu gostava tanto não funcionando mais me desespera. Depois, tento, a todo custo, fazer ele voltar a ser igual antes. Mas ele nunca vai voltar a ser. Posso até comprar um novo, mas não é a mesma coisa. E nunca será. Talvez isso seja bom, me faça ir atrás de outras coisas, entende? Crescer, evoluir. Mas sempre vou ter o gostinho do vazio de algo que eu tinha e não terei mais dentro de mim. O nome disso é nostalgia, eu sei. Mas não é uma nostalgia boa. Vai ser algo com um "quê" de fracasso, derrota, perda. Ah, sei lá! Não importa. O que importa agora é que o coração não é seu, e mesmo que a culpa seja, eu quero meus cacos de volta. Tempo? Porque raios eu preciso de tempo pra ter o que é meu de volta? Por que? Onde tá escrito isso? Ah claro, saquei! É um processo de desintoxicação. Esterilizar cada pedacinho dele pra me ver livre dessa dor, não é isso? E pra ser o mais próximo do perfeito, necessito de tempo, certo? Porque um trabalho desse requer cuidados, é óbvio. O que disse? Se eu não sinto? Claro que sinto! Sinto muito. Não tá sendo fácil pra mim estar aqui frente a frente com você tentando recolher a bagunça que a gente fez. Claro que foi a gente. Eu te dei o coração e você quebrou. Se você não tivesse quebrado eu... Tá, concordo! Se eu não tivesse te dado você não o quebraria. Enfim, eu acho é que deveria existir seguro pra essas coisas. Não se pode mais confiar com quem deixamos nosso coração. Sim, estou me referindo a você. O que eu vou fazer daqui pra frente? Ah..vou seguir minha vida conforme o rumo que eu quiser tomar, é claro. Mas sempre em diante, em direção as coisas boas, que acrescentam, somam. E o coração? Bem, vou deixar ele repousando, depois de tantas quedas ainda tenho a esperança de menino que ele volte a ser como antes. Um dia quem sabe ele volte a bater como da vez em que me apaixonei por você? Um dia...

sábado, 28 de julho de 2012

(Des)conhecido...

Nunca ouvi sua voz, nem vi a textura da sua pele. Nunca senti seu olhar me tocando, embora sei que já tenha me visto antes. Nunca senti o calor da sua presença mesmo sabendo que seu rosto ficou bem próximo da minha mão pela tela do celular. Nunca fui abraçado por você, apesar de sentir no peito um aperto a cada palavra que você dizia. Nunca vi você sorrindo, ainda que tenha visto o seu sorriso congelado numa foto. Nunca vi você, apesar de já ter nos apresentado antes.

Me embriaguei de certa timidez ao falar contigo pela primeira vez. Talvez pelo medo de que me achasse igual aos outros, que terminam a conversa em coisas fúteis e banais sem se quer interessar em descobrir as coisas fantásticas que cada um abriga dentro de si. Sim, porque todo mundo tem um universo dentro desses poucos centímetros de tórax. Universo capaz de encantar muitos outros mundos por ai. E é o que mais tem me cativado em uma pessoa. Então, eu, com o meu jeitinho, me pus a tentar descobrir um pouco desse seu universo. Eu sei que existe consequência pra tudo e, sem pestanejar, entrei de cabeça nessa aventura. Evidentemente que abri as portas do meu universo pra você também. Mas assim que é bom. Choque de dois mundos, onde as idéias se misturam e embaralham acrescentando coisas pras almas. Falando em almas, esse foi um dentre os assuntos que tivemos durante aquela madrugada. Lembro bem daquele...como se diz mesmo? "Feeling"? Aquele "feeling" que tivemos. Como se nossas essências se destacassem dentre várias outras num mar de almas perdidas. Um leão e um centauro. Representantes da casa do fogo segundo a astrologia, resultado: afinidade previsível. O engraçado é que foi tão natural a forma como as coisas se desenrolaram que as horas passaram sem que eu percebesse. O chá esfriou sobre a escrivaninha. A lapiseira esquecida sobre os traços do desenho inacabado. O frio nos pés nem me atormentavam mais. Fiquei tão envolvido que, mesmo longe, te sentia perto.

Dormi porque já era tarde. Mas custei a pegar no sono. Sabe como é, né?! Coraçãozinho cheio de alegria é igual criança cheia de birra: faz de tudo pra quebrar as regras. E como uma criança que faz tudo escondidinho, se deliciando silenciosamente de cada traquinagem que só pra ela faz sentido, desejando com todas as forças não ser descoberta, eu passei parte do dia de hoje admirando seu sorriso congelado na foto na esperança de que um dia, aquela alegria toda fosse pra mim. Porque não há alegria maior do que um mundo inteiro sorrindo pra você, com você.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Cores

A: Qual sua cor preferida?
C: Verde! Por que?
A: Atoa!
C: E a sua?
A: Sou daltônico!
C: Jura?
A: Sim! E como eu confundo as cores, acho que gosto de preto!
C: Por que?
A: Ah! Preto é ausência de cor!
C: Hum...
A: E porque verde?
C: A cor da esperança. A cor da maçã ácida. Verde é o imaturo, é o sabor menta, a grama. A cor do passarinho que faz fofoca por aí. A cor do "siga em frente". Clorofila. Verde é o símbolo das plantas, cor fundamental da natureza. Cor da esmeralda.
A: ...
C: Na verdade eu amo cores! Amo como elas se ajustam, se harmonizam, se misturam!
A: Hum...
C: O que foi?
A: Eu queria poder enxergar um arco-íris igual a você!
C: Acho que você iria amar! Tantas cores que se encaixam em você! E preto não combina contigo!
A: Ah é?! Por que?
C: Porque preto é ausência de cores!
A: E o que tem?
C: É que eu prometi trazer mais cores pra sua vida!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Tudo bem?

A: Ei!
C: Oi! Que bom que você veio!
A: Tudo bem?
C: Tudo! E você? Tudo bem?
A: Tudo...Quer ajuda?
C: Não precisa, tá tudo bem!
A: Tudo?
C: Ajude-me!
A: Pronto, bem melhor!
C: Obrigado!
A: Ah...Tudo bem!
(silêncio)
C: Sonhei contigo hoje!
A: Sonho bom ou sonho ruim?!
C: Não sei...
A: Como foi?
C: Não lembro!
A: Então como sabe que foi comigo?
C: Acordei feliz, acordei sorrindo!
(silêncio)
C: Você tem me feito bem, tem me feito feliz! É como se, aos poucos, você tivesse virado uma espécie de TUDO pra mim, entende? Não sei, desde de quando começamos a sair você tem sido importante pra mim!
(silêncio)
C: Eu...eu...(respira). O que eu tô querendo dizer é que...Eu te amo! Desculpa, mas eu precisava desabafar isso!
A: Hum...
(silêncio)
C: O que foi? Não gostou?
A: Não, não é isso!
C: O que é então? Tá tudo bem?!
A: É que...Agora sim tá TUDO bem!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Pão da alegria

A: O que aconteceu? Você tá tão distante...
C: Eu não estou muito bem hoje...
A: Me conta o que aconteceu? Coloca pra fora. Sopra!
C: Ah...Eu tô meio triste...tô com um vazio aqui, ó! (aponta pro peito na região do coração)
A: Não quero te ver assim pra baixo! Me dá um abraço?
C: Haha! Dou!
(Levantaram-se e se apertaram num longo abraço)
A: Tô te apertando?
C: Não tanto quanto meu coração.
A: Eu prometo, tá?!
C: Promete o quê?
A: Que não vou te soltar nunca mais!
C: Bobo!
(silêncio)
A: Você tá mesmo triste!
C: Uhum...
A: Espera...( vasculha a mochila por uns instantes)
C: O que é isso?
A: É pão integral recheado com gotas de chocolate!
C: Ah! O famoso pão da alegria!
A: Sim! Pra você ficar, no mínimo, alegre!
C: Que gracinha você!
A: Viu só como funciona? Pão da alegria faz milagres!
C: Hahaha! Bobo!
A: Bobo é o sorriso que preenchi no seu rosto!
C: Bobo é você que preencheu meu vazio!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Infinitamente grande

A: No que você tanto pensa?
C: O céu...
A: O que tem ele?
C: Ele me dá paz, me faz perceber o quanto o mundo é grande. O céu une as pessoas!
A: Como assim?
C: Ele tende ao infinito e isso justifica tudo!
A: A sua paz?
C: Me conforto ao saber que tudo é infinitamente grande para se impor limites, entende?
A: Você é sonhador!
C: Talvez...
A: Tenho que ir!
C: Você tem mesmo que se mudar?
A: Já conversamos sobre isso. As coisas não são tão simples.
(silêncio)
C: Me promete uma coisa?
A: O que?
C: Que vai olhar mais para o céu, e quando o fizer vai se lembrar de mim?
A: Não preciso olhar pro céu pra me lembrar de você!
C: Mas é pra você não se esquecer o que eu sinto por você!
A: Paz?
C: Amor!