sábado, 1 de setembro de 2012

Lua azul

Dizem que a Lua tá azul. Blue moon. Dizem também que é raro esse fenômeno, cerca de dois em dois anos, sei lá. Duas luas cheias num mesmo mês. E ela tá tão bonita. Você devia olhar mais para o céu, sabia? Eu sei que você também viu a lua hoje. Mas só porque é um fenômeno raro e todo mundo estava comentando sobre, fala a verdade. Pois é, tem que olhar pro céu todo dia. Ele me acalma tanto.

Às vezes a gente fica tão focado nos nossos problemas, na nossa rotina, naquele ciclo tão pequeno que nos cerca que esquecemos que o mundo é muito maior. Sim, muito maior que essa vidinha medíocre a que gente leva e acha que arrasa.  Daí, quando eu olho pro céu, é como se sentisse o tamanho do Universo e percebesse que, na maioria das vezes, me desgasto por tão pouco. Cada mágoa é um pedaço da alma que é arrancado, sabia? E cada vez que eu olho pro céu e tenho essa sensação de que a vida é muito maior do que os limites que meu cérebro me impôs, minha alma se regenera. Vem aquele impulso de esquecer o passado, focar no futuro e viver o presente rumo aos sonhos que me preenchem e me fazem querer dizer um dia: Eu venci a vida. Entende? Eu sei que sempre vão existir problemas, que serei magoado, frustrado. Que encontrarei dificuldades, viverei rotinas. Sei que um dia desanimarei frente aos obstáculos, estes que surgirão aos montes. Sei disso. Mas, o que eu tô querendo dizer é que, independente disso tudo, sempre existirá o céu lá, dizendo pra mim que o mundo é muito maior que qualquer coisa. E daí, quando isso acontecer, quando eu perceber essa imensidão de vida, eu serei como a lua azul. Quebrarei as regras e estamparei, divinamente, o céu da minha vida. E, embora raro, serei um fenômeno de mim mesmo, iluminando meus caminhos com a minha luz própria que, aquele dia, brilhou mais forte. E, então, o impossível tornou-se possível.

domingo, 5 de agosto de 2012

Aos cacos

Meu coração são quinhentos e vinte e três cacos unidos um a um como um quebra-cabeça de criança. Ele já foi inteiro como um jarro de vidro que vez ou outra carrega algumas flores e encanta as pessoas. Mas um dia ele caiu. A primeira vez partiu em dois. Da segunda, trinta e dois. Da terceira, cento e seis. E agora, quinhentos e vinte e três.  Por que coração quebra tão fácil? Quebra tanto que nem parece mais um coração. Será que um dia ele vai parar de quebrar? E se parar vai continuar a funcionar?

Meu coração são quinhentos e vinte e três cacos. Duzentos e doze pra você e o resto pra mim. Afinal, tenho que ficar com a maior parte, né?! Não importa, já é caco mesmo...Ei, já que você quebrou ele mais um pouquinho, me devolve os cacos pelo menos! Dá aqui pra mim, pra eu tentar colar! Pra você são apenas cacos, mas pra mim não. É o meu coração, entende? Inteiro ou não, ele é meu, parte de mim. E, pra mim, ele tem importância. Não ligo se funciona ou não, eu quero de volta! Sou igual criança quando seu brinquedo preferido quebra: tento, por mais impossível que seja, reconstituí-lo de novo.Primeiro choro bastante, porque a angustia de ver algo que eu gostava tanto não funcionando mais me desespera. Depois, tento, a todo custo, fazer ele voltar a ser igual antes. Mas ele nunca vai voltar a ser. Posso até comprar um novo, mas não é a mesma coisa. E nunca será. Talvez isso seja bom, me faça ir atrás de outras coisas, entende? Crescer, evoluir. Mas sempre vou ter o gostinho do vazio de algo que eu tinha e não terei mais dentro de mim. O nome disso é nostalgia, eu sei. Mas não é uma nostalgia boa. Vai ser algo com um "quê" de fracasso, derrota, perda. Ah, sei lá! Não importa. O que importa agora é que o coração não é seu, e mesmo que a culpa seja, eu quero meus cacos de volta. Tempo? Porque raios eu preciso de tempo pra ter o que é meu de volta? Por que? Onde tá escrito isso? Ah claro, saquei! É um processo de desintoxicação. Esterilizar cada pedacinho dele pra me ver livre dessa dor, não é isso? E pra ser o mais próximo do perfeito, necessito de tempo, certo? Porque um trabalho desse requer cuidados, é óbvio. O que disse? Se eu não sinto? Claro que sinto! Sinto muito. Não tá sendo fácil pra mim estar aqui frente a frente com você tentando recolher a bagunça que a gente fez. Claro que foi a gente. Eu te dei o coração e você quebrou. Se você não tivesse quebrado eu... Tá, concordo! Se eu não tivesse te dado você não o quebraria. Enfim, eu acho é que deveria existir seguro pra essas coisas. Não se pode mais confiar com quem deixamos nosso coração. Sim, estou me referindo a você. O que eu vou fazer daqui pra frente? Ah..vou seguir minha vida conforme o rumo que eu quiser tomar, é claro. Mas sempre em diante, em direção as coisas boas, que acrescentam, somam. E o coração? Bem, vou deixar ele repousando, depois de tantas quedas ainda tenho a esperança de menino que ele volte a ser como antes. Um dia quem sabe ele volte a bater como da vez em que me apaixonei por você? Um dia...

sábado, 28 de julho de 2012

(Des)conhecido...

Nunca ouvi sua voz, nem vi a textura da sua pele. Nunca senti seu olhar me tocando, embora sei que já tenha me visto antes. Nunca senti o calor da sua presença mesmo sabendo que seu rosto ficou bem próximo da minha mão pela tela do celular. Nunca fui abraçado por você, apesar de sentir no peito um aperto a cada palavra que você dizia. Nunca vi você sorrindo, ainda que tenha visto o seu sorriso congelado numa foto. Nunca vi você, apesar de já ter nos apresentado antes.

Me embriaguei de certa timidez ao falar contigo pela primeira vez. Talvez pelo medo de que me achasse igual aos outros, que terminam a conversa em coisas fúteis e banais sem se quer interessar em descobrir as coisas fantásticas que cada um abriga dentro de si. Sim, porque todo mundo tem um universo dentro desses poucos centímetros de tórax. Universo capaz de encantar muitos outros mundos por ai. E é o que mais tem me cativado em uma pessoa. Então, eu, com o meu jeitinho, me pus a tentar descobrir um pouco desse seu universo. Eu sei que existe consequência pra tudo e, sem pestanejar, entrei de cabeça nessa aventura. Evidentemente que abri as portas do meu universo pra você também. Mas assim que é bom. Choque de dois mundos, onde as idéias se misturam e embaralham acrescentando coisas pras almas. Falando em almas, esse foi um dentre os assuntos que tivemos durante aquela madrugada. Lembro bem daquele...como se diz mesmo? "Feeling"? Aquele "feeling" que tivemos. Como se nossas essências se destacassem dentre várias outras num mar de almas perdidas. Um leão e um centauro. Representantes da casa do fogo segundo a astrologia, resultado: afinidade previsível. O engraçado é que foi tão natural a forma como as coisas se desenrolaram que as horas passaram sem que eu percebesse. O chá esfriou sobre a escrivaninha. A lapiseira esquecida sobre os traços do desenho inacabado. O frio nos pés nem me atormentavam mais. Fiquei tão envolvido que, mesmo longe, te sentia perto.

Dormi porque já era tarde. Mas custei a pegar no sono. Sabe como é, né?! Coraçãozinho cheio de alegria é igual criança cheia de birra: faz de tudo pra quebrar as regras. E como uma criança que faz tudo escondidinho, se deliciando silenciosamente de cada traquinagem que só pra ela faz sentido, desejando com todas as forças não ser descoberta, eu passei parte do dia de hoje admirando seu sorriso congelado na foto na esperança de que um dia, aquela alegria toda fosse pra mim. Porque não há alegria maior do que um mundo inteiro sorrindo pra você, com você.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Cores

A: Qual sua cor preferida?
C: Verde! Por que?
A: Atoa!
C: E a sua?
A: Sou daltônico!
C: Jura?
A: Sim! E como eu confundo as cores, acho que gosto de preto!
C: Por que?
A: Ah! Preto é ausência de cor!
C: Hum...
A: E porque verde?
C: A cor da esperança. A cor da maçã ácida. Verde é o imaturo, é o sabor menta, a grama. A cor do passarinho que faz fofoca por aí. A cor do "siga em frente". Clorofila. Verde é o símbolo das plantas, cor fundamental da natureza. Cor da esmeralda.
A: ...
C: Na verdade eu amo cores! Amo como elas se ajustam, se harmonizam, se misturam!
A: Hum...
C: O que foi?
A: Eu queria poder enxergar um arco-íris igual a você!
C: Acho que você iria amar! Tantas cores que se encaixam em você! E preto não combina contigo!
A: Ah é?! Por que?
C: Porque preto é ausência de cores!
A: E o que tem?
C: É que eu prometi trazer mais cores pra sua vida!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Tudo bem?

A: Ei!
C: Oi! Que bom que você veio!
A: Tudo bem?
C: Tudo! E você? Tudo bem?
A: Tudo...Quer ajuda?
C: Não precisa, tá tudo bem!
A: Tudo?
C: Ajude-me!
A: Pronto, bem melhor!
C: Obrigado!
A: Ah...Tudo bem!
(silêncio)
C: Sonhei contigo hoje!
A: Sonho bom ou sonho ruim?!
C: Não sei...
A: Como foi?
C: Não lembro!
A: Então como sabe que foi comigo?
C: Acordei feliz, acordei sorrindo!
(silêncio)
C: Você tem me feito bem, tem me feito feliz! É como se, aos poucos, você tivesse virado uma espécie de TUDO pra mim, entende? Não sei, desde de quando começamos a sair você tem sido importante pra mim!
(silêncio)
C: Eu...eu...(respira). O que eu tô querendo dizer é que...Eu te amo! Desculpa, mas eu precisava desabafar isso!
A: Hum...
(silêncio)
C: O que foi? Não gostou?
A: Não, não é isso!
C: O que é então? Tá tudo bem?!
A: É que...Agora sim tá TUDO bem!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Pão da alegria

A: O que aconteceu? Você tá tão distante...
C: Eu não estou muito bem hoje...
A: Me conta o que aconteceu? Coloca pra fora. Sopra!
C: Ah...Eu tô meio triste...tô com um vazio aqui, ó! (aponta pro peito na região do coração)
A: Não quero te ver assim pra baixo! Me dá um abraço?
C: Haha! Dou!
(Levantaram-se e se apertaram num longo abraço)
A: Tô te apertando?
C: Não tanto quanto meu coração.
A: Eu prometo, tá?!
C: Promete o quê?
A: Que não vou te soltar nunca mais!
C: Bobo!
(silêncio)
A: Você tá mesmo triste!
C: Uhum...
A: Espera...( vasculha a mochila por uns instantes)
C: O que é isso?
A: É pão integral recheado com gotas de chocolate!
C: Ah! O famoso pão da alegria!
A: Sim! Pra você ficar, no mínimo, alegre!
C: Que gracinha você!
A: Viu só como funciona? Pão da alegria faz milagres!
C: Hahaha! Bobo!
A: Bobo é o sorriso que preenchi no seu rosto!
C: Bobo é você que preencheu meu vazio!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Infinitamente grande

A: No que você tanto pensa?
C: O céu...
A: O que tem ele?
C: Ele me dá paz, me faz perceber o quanto o mundo é grande. O céu une as pessoas!
A: Como assim?
C: Ele tende ao infinito e isso justifica tudo!
A: A sua paz?
C: Me conforto ao saber que tudo é infinitamente grande para se impor limites, entende?
A: Você é sonhador!
C: Talvez...
A: Tenho que ir!
C: Você tem mesmo que se mudar?
A: Já conversamos sobre isso. As coisas não são tão simples.
(silêncio)
C: Me promete uma coisa?
A: O que?
C: Que vai olhar mais para o céu, e quando o fizer vai se lembrar de mim?
A: Não preciso olhar pro céu pra me lembrar de você!
C: Mas é pra você não se esquecer o que eu sinto por você!
A: Paz?
C: Amor!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Coisas do coração

A: O que você tem, eim?!
C: Ah...coisas do coração!
A: Dor?
C: Vazio...
A: Impossível!
C: Impossível, por que?
A: Ah! Ninguém tem um coração vazio! Eu, por exemplo, tenho muitas coisas boas dentro do meu!
C: Você?!
A: Você!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Monarcas

A: Você vê?
C: Não tem mais nada para ser visto.
A: Não quando se ignora.
C: Não vale à pena.
A: Não foi tentado.
C: Não é tão simples.
A: Nada é fácil.
C: Mas existem outros caminhos.
A: Fugir não é um deles.
C: Talvez seja
A: Talvez...
C: ...
A: Espera...(Abre a mochila, vasculha por alguns instantes e retira uma pequena caixa de papelão).
C: O que é isso?
A: É pra você! Abre a mão! ( Reira algo de dentro da caixa)
C: Mas isso é uma borboleta viva!
A: Pois é...bonita de longe e feia de perto.
C: O que isso quer dizer?
A: Borboletas vivem até 8 dias.
C: Mas essa é uma Monarca!
A: E o que tem?
C: Elas vivem mais do que o normal. Podem viver durante meses!
A: E depois acaba!
C: Nada é pra sempre!
A: Eu achei que a gente fosse...
C: Mas a gente é!
A: Como as borboletas?
C: Como as Monarcas!

domingo, 25 de março de 2012

Desabafo inconstante

A vida, às vezes, é bem peculiar. A intensidade como as coisas acontecem, se cruzam, passam escoam, marcam é realmente instigante. Às vezes me pego parado no espaço analisando justamente isso. Essa inconstância de quereres, de poderes. Hoje o nada é meu tudo, mas amanhã descubro que o tudo sempre foi nada. É questão de significados, entende? As coisas vão se modificando, perdendo a prioridade, a importância, a intensidade. Porém, há certas coisas que marcam, que por menos intensas que elas se tornem com o tempo, elas se fixam na nossa essência.

O ser humano é inconstante. Mas os sentimentos não. Eles sempre seguem uma linha na constância dos acontecimentos vividos, experienciados. Contudo, ao misturamos essas duas propriedades antagônicas, o que inevitavelmente vai ocorrer, entramos em uma situação de extrema delicadeza. Trocando em miúdos, o que quero dizer é que o ser humano sempre vai se apaixonar e sofrer por isso. Sempre vai rir e chorar por algo. Sempre vai querer e repugnar alguma coisa. O ser humano é inconstante. Satisfação é uma palavra utópica. Quanto mais próximo dela, mais momentânea ela é. Dura pouco, escoa rápido. E em breve a angústia bate na porta em busca de novas realizações. Isso nos move, de certa forma. Nunca estamos parados, pelo contrário, sempre em busca de algo, palpável ou não. Porém, chega um momento em que a estabilidade se torna nosso maior objetivo. E como a satisfação, a estabilidade sentimental chega a ser uma fantasia. Repito mais uma vez: o ser humano é inconstante.

Estável ou não. Satisfeito ou não. A minha vontade de você se fixou em minha essência por tempo indeterminado. Eu sou inconstante. Você é inconstante. E o que hoje eu sinto por você depende da constância dos fatos que a sua inconstância se mostra influente na minha inconstância. Complicado, não? O ser humano é inconstante. E a inconstância é um jeito de complicar as coisas.

sábado, 10 de março de 2012

Afável amor

Apaixonar-se é uma condição muito controvérsia. O coração se alegra infinitamente fácil com o mínimo gesto de uma pessoa apaixonante para com o apaixonado. Porém, a falta de gestos desencadeia uma angústia profunda capaz de nos tirar o sono. Apaixonar-se é cruelmente bom. É o portão de entrada para a admiração. Que é o caminho para o amor. Que, por sua vez, é o elemento chave capaz de nos fazer engolir sapos, ferir o ego, quebrar conceitos, e o que quer que seja para que aceitemos as diferenças do sujeito amado. Diferenças essas que, ora nos acrescentam, ora nos ferem. Amar é infinitamente cruel. Cruelmente bom.

Fisiologicamente amar é perder o apetite, suar frio, oscilar a pressão sanguínea entre picos elevados e quedas bruscas. Amar é sentir os batimentos cardíacos te tirar o fôlego. A respiração ofegante. As mãos trêmulas. É sorrir atoa, gaguejar, olhar pra tudo e nada ao mesmo tempo. É se desligar da realidade, cantar repetidamente o verso de uma canção. Amar é perder o foco. Andar sem rumo, suspirar pelos cantos. Fisiologicamente, amar é visível. Amar é sofrível. É angústia, ansiedade. Amar é choro escondido, orgulho ferido, sorriso dolorido. Amar machuca, emagrece, engorda. É o tapa na cara, o choque de realidade, a facada no peito. Dor insuportável, alegria incontrolável. Independentemente, amar é paradoxo.

A paixão inicia, o amor termina. A paixão ensina, o amor apóia. A paixão inova, o amor conforta. A paixão renova, o amor suporta. A paixão cega, o amor revela. A paixão e o amor intensificam. A paixão e o amor alegram. A paixão e o amor se completam. São faces de uma mesma moeda que, em conjunto, sustentam a vida. Recheiam os dias. Apaixonar é se arriscar. Amar é se entregar. Depois da paixão vem o amor. A paixão por você ainda não acabou, mas o amor já começou a brotar.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quebrando promessas

Prometi pra mim que não iria me apaixonar tão cedo. Prometi pra mim que não iria deixar ninguém dominar meu coração, preenchendo-o com desejos românticos. Prometi pra mim mesmo que não iria criar expectativas e nem acreditaria no que as novas pessoas da minha vida me diriam. Prometi pra mim que ninguém iria me prender, me gamar o suficiente a me fazer querer mais, talvez um "pra sempre". Por fim, prometi cumprir todas essas promessas. No entanto, a minha necessidade de sentir é tão mais forte do que qualquer promessa que eu já fiz ou ousasse fazer. E, portanto, quando eu menos esperasse, já estava sentimentalmente envolvido, encantado, admirado e finalmente, apaixonado.

Essa determinação ilusória de que nada me abalaria sentimentalmente era o que predominava em mim quando abri os olhos naquela manhã de sexta-feira. A ansiedade em te encontrar me enlaçou despercebido de tal forma que, sem nem notar, eu já estava me envolvendo. Planejei minuciosamente o meu dia, de uma maneira que pudesse reservar a maior parte das horas pra você. O tempo era curto, eu sabia disso. E, mesmo que fosse demasiadamente desejado, era impossível exceder o limite. Ainda acreditando piamente que nada demais aconteceria tomei o ônibus das 10h rumo a sua cidade. Certo de que lucraria em poder te encontrar, já que este não foi, de início, o principal propósito que me motivou a viajar, eu finalmente estava indo ao seu encontro.

Lembro que quando te vi, estava no telefone conversando com uma amiga que insistia em me contar as novidades. Até aquele momento tudo em mim circulava em perfeita harmonia. Porém, quando vi seu braço se estender em forma de aceno, com o intuito de me indicar que você já havia chegado foi essencial para que eu me desequilibrasse sentimentalmente. Senti o seu olhar tocar meu corpo a cada momento em que você me reparava, analisava. E quando ele cruzou com o meu me perdi naquela imensidão esverdeada de tal forma que, se você quisesse conheceria minha alma por inteira. Essa estava nua diante do seu olhar forte e cativante. A timidez surgiu quase que instantaneamente. As palavras sumiram da minha boca. Minhas mãos suavam e, inutilmente, tentei apertar o telefone celular de um jeito que o impedisse de escorregar pelos dedos. Minha amiga tentava, insistentemente, prender minha atenção nos seus assuntos. Naquela hora, porém, por mais que eu quisesse, era inútil me concentrar em qualquer coisa a não ser nos seus olhares tão furtivos que me enfeitiçaram e me fizeram perder completamente a linha de raciocínio. Irritado por ainda estar no telefone e mais tímido ainda pela falta de educação, apressei o fim da ligação para que nada me atrapalhasse naquele momento que eu comecei a ter com você. Entramos no seu carro. Eu, com meu jeito desconsertado, me embolei na hora de prender o cinto de segurança. Sentindo meu rosto queimar como fogo de uma brasa quente, eu tentava ser o mais natural possível, de forma a mascarar a minha completa falta de jeito e vergonha predominante. As conversas foram se desenrolando, os assuntos se modificando e a gente se permitindo conhecer a cada palavra trocada. A empatia foi tão grande que, por mais que não nos conhecêssemos direito e que a minha timidez ainda era existente, eu me sentia à vontade com você. Falava as coisas da forma como eu senti, vivi, aprendi, sem nem peneirar muito a fala, escolher muito as palavras. Te disse tudo de uma forma crua e sincera, sem medo do que você fosse pensar, de como reagiria. Sem tomar conta, eu estava começando a me apaixonar.

Fomos para sua casa. Sara, sua cachorrinha de estimação, lhe deu boas vindas ansiosa e com vontade dos seus afagos. Fomos até o seu quarto onde continuamos a conversar. Até o momento em que você se aproximou, segurou uma de minhas mãos e com a outra segurou minha nuca, aproximando seu rosto do meu ocasionando, por fim, na união dos nossos lábios em forma de um longo beijo. De olhos fechados, sentia nossas bocas dançando em um ritmo desconhecido, sentia sua respiração tocar meu rosto, sua mão alisar meu pescoço. Vivi aquele beijo e os outros que vieram depois dele de uma forma intensa e completa, tão particular minha que me deixou mais envolvido ainda em você. O seu toque foi capaz de me arrepiar, seus beijos me desligava do mundo e eu me sentia leve. As horas ao seu lado passaram rápido e, quando eu menos percebia, já estava na hora em que eu deveria partir. No entanto, o que eu estava sentindo era tão mais forte que não foi suficiente para interromper aquele momento nosso. Eu iria me atrasar, cerca de duas horas e meia, mas não me importei. Aproveitei todo o resto de momento que tive ao seu lado. Sentados na cama, você me prensou pela cintura com as pernas o que cresceu em mim uma necessidade de te tocar e permanecer tocado por você. Continuamos a trocar experiencias e contar nossos casos de vida. Eu contava mais do que você, porém você se expressava, analisava de forma a se mostrar indiretamente pra mim o seu modo de ser, de pensar, de agir. Eu gostei do que conheci. Eu gostei do que aconteceu. Eu gostei de você.

Você me cativou em tão pouco tempo, com tanta intensidade que não teve como não se sentir envolvido. Não sei o que será daqui pra frente. Não sei se nos encontraremos novamente. Não sei até que ponto nos permitiremos nos conhecer. Não sei se daríamos certo. E o rumo que nossa história vai levar é bem cedo pra se precisar. Mas, independente disso. O momento único que tivemos juntos foi essencial para me fazer sentir o que hoje sinto. E que, independente do rumo que essa história tome daqui pra frente, você foi uma pessoa que me marcou. E eu nunca esquecerei isso. E, hoje, longe de você, tudo o que tenho em mim é a imagem do seu sorriso envolvente e do seu olhar penetrante. Que como todas as lembranças, um dia foi real e capaz de nos fazer quebrar promessas.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Universos paralelos

Eu achava não estar num dos meus melhores dias, sem saber mais tarde que aquele seria de longe, um dos melhores.

Conhecer pessoas sempre foi uma das práticas da convivência humana que mais admirei. Esse lance de afinidade e empatia é algo bem subjetivo que vai muito além do conhecimento das características do outro, às vezes se dá antes mesmo desse fato ocorrer. É algo de alma, completamente inconsciente, que simplesmente ocorre quando olhares se cruzam ou quando alguém é observado. Espíritas afirmam que tem haver com vidas passadas. Pessoas que conviveram juntas em situações que, de alguma forma, se registraram na alma. Registros, estes que se dão por sentimentos ou mesmo admiração. O curioso de tudo é que, independente da origem ou explicação, a empatia realmente ocorre e influencia no grau de convivência. É como se determinadas pessoas que me conheceram há 15 minutos se mostrassem mais íntimas que amigos que conheço há 7 anos, por exemplo.

Foi mais ou menos isso que senti quando te olhei pela primeira vez. Sentado naquele sofá de couro rasgado te vi caminhando sozinho até a cadeira um pouco mais alta que as normais, onde mais tarde você derramaria o suco de uva em mim. Nunca tinha te visto na minha vida, nem sequer sabia seu nome. Mas senti, lá no fundo, que de alguma forma te conhecia. Criei coragem e fui atiçar mais ainda a minha sede em, de fato,te conhecer. Nunca fui uma pessoa muito boa para começar um diálogo sem um assunto ou interesse de relevância para o mesmo, sem parecer um tanto oferecido ou forçar certa intimidade invasiva. Portanto me contive na minha timidez exacerbada enquanto observava o diálogo se desenrolar entre você e minha amiga, esperando a brecha certa para me inserir no mesmo de forma natural e não muito exagerada. Foi quando você se abriu pra mim. Quando trocamos nossas primeiras palavras a timidez foi aos poucos cessando e a sensação de empatia foi crescendo a ponto de que, quando menos esperasse, já estava te beijando. O mais diferente de tudo isso é que desse momento em diante não nos comportamos como pessoas que acabaram de se conhecer, mas como pessoas que já se conheciam. Parecíamos namorados e não um casal de ficantes. Devemos manter a calma, os pés no chão, pensei o tempo todo, mesmo me comportando como se você fosse o meu primeiro beijo. Mas independente disso, daquele dia em diante você começou a me marcar.

Outro fato interessante da convivência humana é isso. Cada pessoa é um mundo, cheia de particularidades e manias que reunidas a torna um ser único. Conviver com pessoas é conhecer um pouco dessas particularidades. É conhecer mundos diferentes que se acrescentam no nosso mundo. Se apaixonar é gostar intensamente, logo de cara, das peculiaridades desse mundo novo. Amar, é quando mesmo com inúmeras características negativas doloridas, as positivas, mesmo que poucas, presentes nesse universo que não é nosso se tornam grandes agentes responsáveis por embelezar e dar alegria ao nosso próprio mundo. É como a fusão de duas realidades que se acrescentam, que se desafiam, que se sustentam. E que, acima de tudo, se relacionam.

E assim, aos poucos tenho me permitido conhecer as propriedades do seu universo paralelo. Características suas e de mais ninguém que, aos poucos, vem me encantando e despertando em mim algo tão puro e bom. Vejo nossos mundos se combinarem, se misturarem sem perder a essência que continua permanecendo dentro da gente. A sensibilidade do pisciano com a euforia do sagitariano. A sua ansiedade quando não te contam na hora o que tem para ser dito, com a minha timidez em dizer claramente as coisas que quero. Sua mania exótica de tomar sorvete, com a minha de comidas italianas. Sua mania frenética de morder tudo, com a minha de mordiscar meus próprios lábios. Sua cisma com o tamanho do seu nariz e a minha com a dificuldade de engordar. O seu piercing no mamilo e os meus óculos alternativos. O seu trauma de cuidar de crianças no ônibus e o meu de ser babá no metrô. Você que fará Direito e eu que faço Farmácia. Você que tomou suco de caju e eu que tomei de amora. Você que não gosta de filme legendado e eu que não gosto de dublado. Seu beijo que tem gosto de maracujá e eu que tenho mania de sentir gosto de fruta nos beijos. Sua mania de procurar redundância nas frases e as minhas expressões engraçadas. A nossa mania de reparar a boca das pessoas. A gente que prefere Subway do que Mc Donald's. Nossa mania de dizer "te cuido" ao invés de "se cuida". A gente que gosta de se vestir bem, mas não liga pra roupa de marca. Nosso medo de dormir em hospital. A gente que prefere frutas vermelhas. As nossas manias de sermos desastrados. Nossa mania de comida temperada e café forte. A gente que ama nossos animais de estimação. A nossa mania de não jogar lixo na rua e detestar que faz isso. A gente que prefere filme nacional. A gente que acabou de se conhecer, mas que sentiu que se conhecia há muito tempo.