sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sexta, nem tanto afetuosa...


- Bom dia Dona Lina!
- Bom dia meu filho!

E assim começava mais uma sexta-feira. Eu e meus pensamentos. Eu e a minha solidão.

- Escuta, meu filho. Vou terminar de arrumar aqui em baixo e logo eu subo para arrumar os quartos, tá bom?
- Claro! Não se preocupe!

Subi as escadas e fui até meu quarto. Esperei-a subir. Peguei meu computador e desci até a sala.

- Vou ficar lá em baixo para não te atrapalhar!
- Quê isso! Só vou arrumar aqui e você já poderá subir!
- Não se preocupe!

Fiquei a manhã inteira navegando na internet. Droga. Eu tinha que estudar! O vestibular está chegando e se eu não passar, meu pai coloca a culpa em minha mãe dizendo que ela me mimou. Sofre. Minha mãe sofre muito. Não quero ser mais um peso e aumentar seu sofrimento. Não me perdoaria nunca. Tenho que estudar. Gosto de estudar. Quero estudar. Mas, falta inspiração. Onde encontrá-la? Como encontrá-la? Não sei...

- Você quer que eu faça alguma coisa para você almoçar, meu filho?
- Não se preocupe Dona Lina! Eu estou indo para o dentista agora! - Disse, ao mesmo tempo em que desligava o computador e preparava para sair.
- E você vai de barriga vazia?
- Eu já comi alguma coisa mais cedo. Estou sem fome. Vou só lavar essas vasilhas...
- Não precisa! Deixa que eu lavo!
- Mas...
- Pode deixar, meu filho!
-Tá bom!

Subi as escadas correndo. Deixei o computador sobre a escrivaninha. Escovei os dentes apressadamente e, logo em seguida, troquei de roupa. Peguei minha mochila e no caminho do portão disse:

- Dona Lina! Eu já estou indo!
- Tudo bem! Vai com Deus!
- Se minha mãe ligar, você avisa que fui ao dentista, por favor?
- Claro!
- Muito obrigado! Estou indo!
- Vai com Deus, meu filho!
- Fica com Deus a senhora!

Não demorei muito. Apenas duas horas, como de costume. Ao chegar, caminhei até o meu quarto, mas no caminho encontrei a Dona Lina:

- Estou de volta!
- Chegou cedo, filho!
- Mas já estou de saída outra vez!

Peguei umas coisas em meu quarto. Não demorei muito e desci. Dona Lina estava lavando vasilhas quando eu disse:

- Bem, vou ir pra casa de minha avó! Faz dias que não a vejo e ela já reclama de minha falta...
- Faz você muito bem! Aproveite sua avó! Ela é como uma segunda mãe!
- Claro!
- Sabe meu filho, eu fui criada por uma avó minha. Minha mãe nunca gostou de mim. Nunca cuidou de mim. Mas, minha avó é quem foi minha verdadeira mãe. Ela me protegia, me amava. Porém, quando tinha 59 anos ela morreu, e eu, estava com meus seis para sete anos. E foi desde aí que começei a trabalhar na casa dos outros. Hoje eu tenho 55 anos. Sabe, se minha avó estivesse viva até hoje eu, com certeza, não teria essa vida que levo...
- Me dá um abraço?
- Ô meu filho! Eu estou toda suada!
- Não importa! Me dá um abraço?!
- Ô meu filho! - Emocionou-se a mulher. Largou as vasilhas na pia e virou-se para receber um abraço - Esse é o melhor abraço que eu já recebi em toda a minha vida!

Abracei-a forte. Depositei muito afeto e muita energia positiva naquele pequeno gesto.

- Bem...Estou indo, então!
- Muito obrigada meu filho! Muito obrigada! Vai com Deus e aproveita!
- De nada! Fica com Deus a senhora!
- Muito obrigada!
- Tchau, tchau!
- Tchau!

Saí pelo portão indgnado. Não posso mudar o mundo, eu sei. Mas, posso fazer minha parte. Reclamo de minha vida, da minha falta de inspiração para com os estudos. Não tem porquê reclamar. Tive muita sorte nessa vida. Não acho certo desperdiçar essa oportunidade que tenho com coisas banais, tenho que aproveitar e estudar, dedicar essa oportunidade que o destino me deu para construir um futuro melhor, e fazer minha parte para, ao menos tentar, mudar o mundo. Indgnado porque só pude dar um abraço enquanto queria ter dado muito mais...

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