quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Acordou como se fosse anjo
Sentiu como se fosse novo
Sorriu como se fosse eterno
Desejou como se fosse tudo
Programou como se fosse possível
Esperou como se fosse rápido
Ansiou como se fosse necessário
Escreveu como se fosse vivido
Sonhou como se fosse realizável
Agonizou como se fosse impossível
Acreditou como se fosse real
Chorou como se fosse incompleto
Explodiu como se fosse comleto
Leu como se fosse tocado
Olhou como se fosse sentido
Isolou como se fosse a saída
Sofreu como se fosse o fim
Amou como se fosse único


E independente do que tenha acontecido ou aconteça:


Viveu como se fosse eterno.

Dia de chuva qualquer

Uma rua. Um céu cinza. Um pouco de chuva. Dois guarda-chuvas. Um cachorro molhado e uma bota de plástico. Nada se ouvia além dos passos esmagando a água das poças, as gotas tentando perfurar a malha do guarda-chuva e o cachorro ronronando depois de, inutilmente, tentar se esconder da chuva.


Uma rua. Um céu cinza. Um pouco de chuva. Dois guarda-chuvas. Um cachorro molhado. Uma bota de plástico e, agora, um pouco de vento. A menina abraçava firmemente o cabo gelado do guarda-chuva para impedir que o vento o levasse. O menino olhava a menina com bastante curiosidade. A menina, tão focada no cabo da sombrinha, tropeçou na bota de plástico abandonada na rua, caíndo de joelhos em uma das poças. O menino abafou um risinho. O cachorro assustou-se e correu desnorteado em busca de outro abrigo. O vento soprou mais forte ainda virando ao avesso a sombrinha da menina, quando ela tentava, desconsertadamente, se levantar. O menino riu mais alto. A menina ficou irritada. O menino disfarçava a risada. A menina chutou a bota. A bota voou no cachorro. O cachorro assustou-se novamente e correu sem rumo. O menino parou de rir. A menina ficou com vergonha. O menino olhou a menina. A menina olhou o menino. O tempo parou.


Uma rua. Um céu cinza. Um pouco de chuva. Dois guarda-chuvas. Dois olhares se cruzando. Um notando a existência do outro. Um diálogo. O menino irá conhecer a menina. A menina irá se apaixonar pelo menino. Um dia de chuva . O início de um futuro entrelaçado. Com o passar dos anos, dos tempos, o dia de chuva qualquer e a bota de plástico esquecida serão lembranças do nascimento de um novo relacionamento na vida deles: o amor.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

À espera do amanhecer

Respiração, escuro, medo. O tic-tac do relógio ecoava pela cozinha e chegava até o meu quarto. A água gotejava dentro do filtro de barro emitindo um som que também era perceptível de onde eu estava. Solidão. Meu coração apertava dentro do meu pijama exigindo dos meus olhos um pouco de lágrima pra manifestar essa solitude da qual me cercava. Distraia com o som do vento empurrando a porta me causando medo. O escuro, tão inofensivo, me despertava certo receio, como se todas as coisas pudessem me cercar debaixo daqueles edredons. Eu me sentia a pessoa mais vulnerável do mundo. Meu coração, então, de apertado passava pro acelerado e essa inconstância arrancava de meus lábios uns certo sopro ofegante que se denotava na minha respiração. 'Treck': a janela estalava devido à dilatação do metal por causa da queda de temperatura durante o dia. Mesmo sabendo disso, esse estalo serviu de mais um estímulo para todo o meu medo crescente. Estava sozinho, encolhido entre as cobertas e respirando ofegantemente enquanto meu coração acelerava descompassado. Fiquei triste e a vontade de chorar não era devido, simplesmente, à toda essa sonoridade ameaçadora, mas a ausência da presença dos alguéns tão especiais que a vida me proporcionara e que ali não estavam. Tentando concentrar na minha respiração e acompanhando lentamente o som propagado por ela até finalmente dormir.

Morava sozinho, no meio de uma cidade nova onde não conhecia ninguém. Era natural que sentisse medo, solidão. E com o passar dos dias, estava ficando cada vez mais natural esse ritual antes de dormir. Toda noite lágrimas, medos, suspiros...
Adormeceu.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Abstrato de mim mesmo




Eu queria que as coisas fossem mais claras. Ou que, pelo menos, não fossem tão absurdamente indecifráveis. Fico perdido no ponto da inconstância sem saber em qual linha se desenrrolará o que eu realmente quero. Mas meu querer também é inconstante, como se não houvessem linhas ou pontos, entende? É o tudo dentro do nada ou o nada dentro do tudo. Tem diferença? No fim das contas é tudo e nada.

Hoje eu quero, amanhã eu não quero. Depois eu me arrependo e logo eu supero. Será que estou andando em círculos, ou simplesmente não andando? Eu acho que estou aprendendo. Mas achar é não ter certeza. E não ter certeza é inconstante. Ah! Podia ser mais fácil essa coisa de achar e sentir. Tudo gira em torno de significados. Vocês sabe o que é ter significado? O que significa ter significado? Qual o meu significado pra você? Eu significo alguma coisa? Perguntas... Tudo termina em perguntas. E as respostas? - Viu? Outra pergunta!-. As respostas são incertas. Mas se são incertas não podem ser respostas. Então, por que são? Talvez porque no meio das incertezas elas sejam as que mais se aproximam ou justificam as perguntas. Mas, se são verdades...Ah! Verdades também são mitos ou aparentam serem utópicas. Não quero falar disso. Me sinto mais preso no círculo de mim mesmo.


Eu posso concluir, ou achar que se trata de uma conclusão, sem saber, ao certo, o que realmente é, que eu sei o que eu sinto, mas no fundo não sei o que eu quero. Talvez porque não sei o que você sente, e se realmente sente, e muito menos o que quer. Então eu arrisco. Arrisco continuar sentindo. Arrisco acreditar no que você diz que sente, porque a vida também é inconstante. E quem não se arrisca, não se aproxima, nem que por um pouco, dos significados, das verdades e das certezas do quer realmente queremos. É tudo e nada. Tudo ou nada.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sabor morango...

Sorrisos, olhares tímidos, suspiros, cochichos. Sentados em mesas bem próximas, vez ou outra nossos olhares se cruzavam. Interessante. Olhos castanhos claros que, ao enxergarem os meus acelerava meus batimentos cardíacos. As mãos tremiam, um misto de prazer e medo. Queria chamar pra conversar, perguntar o nome. Me faltou coragem. Minhas pernas me expulsavam a me prendiam à cadeira, de forma bem paradoxal. O nervosismo tomava conta. E se for fruto da minha imaginação? Quem me garante que estava mesmo sendo notado? Levantei por fim, mas não fui em direção à mesa que, talvez, me convidava. Fui em direção ao banheiro.

Ao voltar, lá estava. No mesmo lugar, com o mesmo olhar. Ah! A vontade de conhecer preenchia o meu eu. Queria conversar e descobrir, pelo menos o nome de quem possuía aqueles olhares tão furtivos que me atraíam incomensurávelmente. Lindos olhares. Discretamente me pus a admirar os traços daquele rosto. Sobrancelhas expressivas que davam todo o poder à aqueles olhos tão translúcidos. O sorriso grande que preenchia aqueles lábios bem desenhados. Ah! Que lindo. Lindo rosto.

Nossos olhares, então, se cruzaram mais uma vez. Ficamos uns segundos nos encarando e eu não consegui me conter. Despreendeu-se dos meus lábios um sorriso tímido. Como resposta, retribuiu meu sorriso e ergueu as sobrancelhas amavelmente. Ah! Fiquei abobado. Enquanto, naquele instante, uma estranha alegria dominava meu eu. Aqueles olhares acompanhados de um lindo sorriso vinham em minha direção.
- Posso me sentar? - disse.
- Claro! - respondi.

Puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Nos admiramos discretamente à medida que o diálogo ia se desprendendo. Que agradável. A naturalidade como tudo aconteceu, os assuntos das conversas, as músicas de fundo, tudo. Tudo estava em harmonia com a companhia, adorável companhia que estava sentada ao meu lado.
Novamente, porém dessa vez mais próximos, nossos olhares se econtraram. Nossos lábios encerraram o assunto para, enfim, se tocarem. Beijamos. Ah! Que beijo bom. Minha boca em contato com a sua parecia se completar. Um beijo na medida, em perfeito equilíbrio harmônico. Mal sabia eu que, seu doce beijo não saíria da minha cabeça. Um beijo com gosto de morango. Sei que você mascava um Trident com este sabor, mas não importa, ele sempre vai ter gosto de morango pra mim. Todas as vezes que eu te beijei depois deste primeiro. Todas as vezes, até hoje, o seu beijo sempre teve gosto de morango.
Foi assim que eu te conheci, foi assim que você começou a me marcar. O rumo que nossa história vai tomar é cedo de mais pra precisar. Mas uma coisa eu tenho certeza, independente do que aconteça, nunca esqucerei do seu belo sorriso, do seu olhar marcante e do seu beijo sabor morango. Porque são essas pequenas coisas, esses pequenos significados que constituem e marcam o meu pequeno grande coração.

sábado, 26 de junho de 2010

Minha alma...

Minha alma é uma porta de madeira velha com a trinca enferrujada. Minha alma é uma caravela portuguesa nos tempos de expansão marítima. Minha alma é o choro de um recém-nascido. Minha alma é bolo caseiro feito por vó em dia de chuva. Minha alma é tempestade de primavera. Minha alma é trilha sonora de filme francês. Minha alma é um beijo apaixonado, um sorriso sincero, um olhar profundo. Minha alma é um suspiro lento, uma baforada quente nas mãos frias. Minha alma é um cartão postal com palavras doces. Uma carta sem destinatário. Minha alma é a ansiedade de criança pro presente no Natal. É abrir ovos de páscoa. Minha alma é um banho quente no inverno. Minha alma é almoço de família em dia de domingo. Minha alma é piquenique em praças. Piadas ditas, gargalhadas soltas. Minha alma são sorrisos na webcam, fotos no computador. Minha alma é sua voz contando números no meu ouvido. SMS num domingo. Minha alma são sotaques no microfone, conversas no MSN. Minha alma é transparente. É um carro que corre apressadamente. Minha alma é doce como creme de amendoim. Minha alma é pura como o sorriso de uma criança. Minha alma são mãos dadas, segurança. Minha alma é o céu, são as estrelas, as nuvens. Minha alma é um café do starbucks. Chocolates. Minha alma é um coração batendo disparadamente. Minha alma é uma falta, uma ausência, uma vontade. Minha alma é tudo e nada. Minha alma só será minha quando a sua estiver por perto. Porque a sua me completa, a sua faz a minha alma querer ser mais do que minha, mas nossa!

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre um despertar

Onze horas da manhã. Acordamos. Nossos olhares se cruzaram como se precisássemos do brilho um do outro pra nos mantermos vivos na penumbra do quarto onde nos encontrávamos. Sorrimos como se fizéssemos um convite para deitarmos juntos, aquecendo-nos na manhã fria de domingo. Levantou e se juntou à mim, me abraçando. Apertarmos-nos como uma criança aperta seu ursinho de pelúcia quando sente medo do escuro. Ao nos soltarmos, inclinei sua cabeça como se algo estivesse acontecendo.
- Que foi?
- Vem cá - respondi pegando a sua cabeça e colocando-a sobre o meu peito com a intenção de mostrar-lhe o som ritmado do meu coração. - Ele tá falando com você...Tá ouvindo?
Fez que sim com a cabeça prestando muita atenção nas batidas que meu coração fazia sobre o meu peito.
- Tá dizendo "eu te amo" em código morse...
Inclinou a cabeça para me olhar. Sorrimos. Os olhos brilharam ainda mais intensos. Nos beijamos. E aquele beijo tão bom quanto todos os que vieram antes e depois dele tornaram-se mais um complemento para nossos corações que se pertenciam. Pra sempre...
Tum tum.
Tum tum.
Tum tum.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre as euforias de uma depressão inacabável

Segunda-feira. Era início de tarde de segunda-feira, lembro claramente. Meio dia em ponto, acho. Não, já eram meio dia e vinte quando tudo começou. Isso, exatamente meio dia e vinte. Eu estava sozinho em casa. Minha mãe sempre me esperou para o almoço, mas naquele dia ela não estava lá e nem deixou recado como tem costume de deixar quando sai às pressas. O almoço estava pronto, lembro de ver as panelas ainda quentes sobre o fogão e o cheiro de comida nova. Segunda-feira sempre tem comida nova, feijão novo, arroz novo, tudo novo. Mas eu passei direto, nem se quer salivei. Não queria comer. Subi calado pro meu quarto com a mão no peito como se fosse ter um ataque do coração. Esvaziei os bolsos na escrivaninha e joguei a mochila na cadeira. Liguei o som e coloquei o CD pra tocar. Era "La Valse d'Amélie (Version Orchestre)" do Yann Tiersen. Caí de joelhos no chão perto da cama. Começei a chorar. Chorei como um menino que se perdeu dos pais no meio de uma rua movimentada de um bairro desconhecido. Deitei de barriga pra cima no chão frio e gritava, soluçava, agonizava. Sentia uma angústia inexplicável. As lágrimas desciam quentes e ferozes pelas bochechas como ácido em pele virgem. As narinas entupidas dificultavam a respiração que, ofegante, não dava conta de oxigenar os tecidos. A cabeça, por exemplo, ardia devido a ondas que saiam de pólos equidistantes do cérebro e percorriam todo um trajeto cefálico durante um período de tempo altamente cronometrado. A voz falhava com os gritos que saíam arranhando a traquéia. Me contorcia no chão como se estivesse sendo torturado sobre uma chapa quente invisível. Mas a dor não era no corpo. A dor era na alma, no coração. E as feridas desses locais são de difíceis cicatrização e não há anestesia que disfarçe o sofrimento.

Guardo na memória o momento em que agarrei o pé da cama, mordi o colchão e apertei bem os olhos até as lágrimas pararem de escorrer. Logo depois, larguei o colchão e me pus a repetir incansavelmente as frases: "Por que isso tem que acontecer comigo?" ou "Por que tem que ser desse jeito?" ou ainda " Por que sempre tenho que sofrer assim? Onde será que tanto erro?".

Os músculos da face formigavam e mechiam sozinhos. As lágrimas voltaram a cair. Tentei me levantar, mas minhas pernas e braços estavam moles. E, ainda perto da cama, me despi completamente. Em pêlo e ainda soluçando muito rastejei até o banheiro. Liguei o chuveiro e fiquei, por muito tempo, sentado no chão recebendo a água quente no corpo. O piano começou a tocar as notas de "Sur Le Fil" de Yann. Abraçei os meus joelhos e fiquei sentindo a água quente percorrer por entre meus cabelos até se misturar com as lágrimas que se desprendiam insistentemente dos olhos. A angústia dominava todo o meu estado de espírito. A água tentava lavar a alma que estava completamente nas trevas.

Estou tão triste. O universo sempre tentando equilibrar as coisas: Um dia você está no auge da felicidade, no outro você vai pro fundo do poço. E eu não consigo saber exatamente o que se passa comigo. Apenas sei que dói, dói muito! Por hora me dá vontade de não viver, digo, de não sentir. O machucado é fundo, a alma está inquieta. Euforia completa. Sinto que não vou dar mais conta, como se tudo isso fosse a última gota. Última gota no copo d'água, última gota no meu cabelo, última gota no meu corpo, última.

Enrrolei na toalha como quem enrrola todos os problemas que ferem e que nunca cansam de crescer. Enquanto não parar de sangrar, eu vou minguando, minguando, minguando, até.




quarta-feira, 19 de maio de 2010

A menina do laço de fita

Ela era baixa. Usava um vestidinho de chita branco e azul, daqueles de ir em batizado de primo e uma fita azul celeste no cabelo chanel e extremamente liso. Um sapatinho preto de fivela envolvendo a meia de rendinha branca feita à mão pela avó a deixava impecável, feito aquelas bonecas de porcelana que a mãe brincava quando criança.

A menina era pura, completamente pura. E sua pureza era tão grande que parecia um crime ela existir nesse mundo que tem se mostrado tão sujo. Mais do que pura, ela era única. E mesmo possuindo falsas cópias, elas não passam de cópias vazias. Vazias ao ponto de carregarem a mesma aparência e até o mesmo nome, mas uma essência super diferente. E todas elas, a verdadeira e as falsas, realmente existem. A menina de fita azul no cabelo e todas as outras que tentavam ser como a primeira eram reais e viviam num jardim.

Jardins são bonitos e misteriosos. Mas, por mais que sejam belos, eles não são tão puros como a minha menina. E essa impureza é mascarada. As plantas, por exemplo, se desenvolvem devido a matéria morta que se fundiu à terra. Crescem do podre abandonado pelos seres ao morrerem. O que se desenvolve dos restos não pode ser puro, pois se os seres quando morrem abandonam o corpo é porque na carne não está a verdadeira essência, entende? A carne serve de barreira. O essencial transcende o corpo, está na alma.

O jardim é o local sujo onde a menina vive sem se deixar influenciar pela sujeira. Porém, nele também é encontrado inúmeras outras falsas cópias dessa menina que se deixaram, consciente ou inconscientemente, influenciar pela sujeira. São meninas sem essência, sem um verdadeiro significado que as tornem dignas de existirem.

A garotinha de que tanto falo tem um vestido de chita branco e azul, sapato de fivela e meia de rendinha. Essa menina tem uma fita azul celeste no cabelo. Essa menina vive num jardim. Essa menina possui falsas cópias. O jardim representa o mundo. A menina representa o amor verdadeiro. E as falsas cópias representam o falso amor que predomina no mundo.

domingo, 16 de maio de 2010

O que não cabe em mim...


Os olhares se cruzaram. Ficaram estacionados como para ler a alma um do outro. Meus lábios sorriram automaticamente. Retribuiu o meu sorriso e à medida que sua boca ia abrindo meu coração ia se clareando. Meu espírito pulava num estado de êxtase profundo. Levei as mãos ao peito e sentia com meus dedos frios em contato com minha pele macia o coração pulsando cada vez mais forte. Era tanto sangue por segundo que minha pressão sanguínea aumentava de maneira incontrolável. Minhas pernas tremiam descompassadas. As pessoas do bar olhavam curiosos para nós dois. E, ainda olhando para seus olhos, eu disse tudo o que estava guardado em mim. Palavras que tentavam inutilmente descrever o que elas não dão conta. É tudo muito sublime e indizível. E, por mais que eu tenha usado todos os adjetivos para expressar o que eu sentia, eles ainda se tornavam escassos para a definição do real sentido da coisa, entende? Seus olhos brilhavam para mim, como duas grandes estrelas do céu. Esse gesto me deixou mais louco ainda. Minhas pernas tremiam mais do que eu conseguia segurar. Meu sorriso era maior que a minha boca e esse sentimento que se chama amor queria transbordar, porque era muito maior do que eu dava conta de imaginar. Muito maior do que eu. Muito maior do que tudo que eu já senti na vida. Sorriu pra mim novamente me desarmando mais ainda. Peguei a sua mão, coloquei no meu peito e disse, acompanhando o ritmo das batidas do meu coração que soletravam em código morse todo um amor que havia nascido ali dentro, o quanto amava. Disse-lhe o tanto que prezo esse amor, o tanto que prezo os corações e acrescentei ainda a fragilidade do meu. Um coração doce, como que recheado de creme de amendoim, que muito já sofreu por amor, que muito acreditou que não se recuperaria, mas que estava ali agora, puro, intacto e completamente preenchido. Foi então que eu disse:
- Está sentindo esse coração? Então, ele é o meu maior tesouro. E esse tesouro quer você. Você quer ficar com ele? Quer namorar comigo?

Coloquei a mão no bolso e tirei uma caixinha com duas alianças de prata com nossos nomes gravados. A gente se abraçou, forte. Muito forte. Eu estava num estado completo de felicidade e emoção. A gente se beijou. Um beijo apaixonado, o mais perfeito de todos.

Pegou minha mão, que ainda tremia muito, e colocou uma das alianças no meu dedo. Fiz o mesmo. Sorrimos um para o outro. Os olhos brilhavam mais do que tudo que reluz. A felicidade dominava todo o meu astral.


-Eu te amo!
-Eu te amo, muito!

E nos beijamos mais uma vez.

sábado, 8 de maio de 2010

Inusitado verdadeiro

Era noite. Faltavam exatos dez minutos para completar meia-noite. Ele cheirava a sabonete de lavanda e alecrim. Abriu a janela do quarto por onde observou o céu. Pensou se estavam pensando nele. O coração apertava. Uma onda de sensações se desprendia do seu corpo. Estava leve. Deu vontade de sorrir e ele sorriu, logo depois mordeu o lábio inferior como sempre fez inconscientemente. Os olhos brilhavam e refletiam quase com perfeição a luz da lua e das estrelas que se encontravam ali, naquele pequeno portal pra alma. Sorriu mais uma vez. Levou a mão ao peito e sentiu um misto de prazer e dor. Estava alegre. Tinha vontade de correr, de voar. Largou o céu por uns instantes, pegou o computador e sentou novamente perto da janela. Antes de voltar a olhar a noite, abriu a foto de quem despertava toda essa sensação no seu corpo, alma e coração. Seus olhos vibraram. Seus lábios sussuraram um nome, provavelmente o nome de quem ele começava a amar. Um nome forte, um nome bonito, um nome que possuía total harmonia entre as vogais e consoantes, um som que ecoava dentro dos seus ouvidos, mas principalmente dentro de seu espírito. Um nome que designa uma pessoa, mas que pra ele representa uma alma, de alguém incomum que conseguiu a permissão de se aventurar por entre as portas ocultas do seu coração, alguém que conseguia lê-lo, alguém que o completava. Estendeu uma das mãos e passou com compaixão e carinho no rosto da foto. Sorriu mais uma vez. Não cansava de sorrir. Estava feliz. Estava completo. O amor nasce assim: nos momentos secretos e inconfundíveis de si mesmo. Nas diferenças e semelhanças de duas pessoas que se completam, preenchem. A alma fica serena e em paz. O sorriso é maior do que a boca consegue mostrar. O coração diz que ainda está vivo, e a cada batida, mais forte e intenso. Os olhos enxergam mais cores e brilhos e transcendem para o intrínseco de cada ser no mundo. Ali, naquelas sensações silenciosas, naquele sentimento que começava a se tornar grande, o menino se apaixonava. E ninguém no mundo, além de mim sabe como aquele garoto na janela em plena virada de noite estava se sentindo. Voltar a sentir o que ele achava que nunca mais sentiria: o amor.

Era o fim de sábado dia 08 e início de domingo dia 09. Mas todo esse sentimento começou com uma inusitada conversa que aconteceu à duas semanas atrás, exatamente na segunda-feira dia 26 do mês anterior. E agora não tem mais fim...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Descalço no caminho


Os dedos brancos, limpos e úmidos entravam em contato com o também limpo, mas ríspido chão frio. Contato entre os pés e o solo. Delicado e rude. Com passos macios cada vez mais intenso o calor gerado pela corrente sanguínea dos pés era passado constantemente para o chão frio. A cada segundo as superfícies macias dos pés se tornavam mais frias e como consequência as células se enrijeciam dando um aspecto mais petrificado a eles. Gelado. Em questão de minutos eles estavam todos dominados. Porém, a corrente sanguínea que os preenche é contínua e a fonte de calor nunca acaba. O frio desanimava os passos que minguavam ao passar do tempo. Mesmo não sendo tão forte, ele desarmava os pés e sua vontade de ser quente, e a sensação subia sistematicamente das pontas dos dedos até as canelas.

As unhas estavam adquirindo um aspecto roxo, a pele ficava mais branca, mais clara. O conjunto como um todo se tornava mais sólido. Frio. Sem perceber e de forma automática, os pés já caminhavam mais lentamente e sobre as pontas de seus dedos, de forma a diminuir a superfície de contato. O sangue continuava persistente circulando pelo corpo e tentando regulamentar a sua temperatura. O frio se tornava insuportável. Os pés pararam. As mãos desceram para tentar auxiliar o aquecimento, doando um pouco de suas energias para esquentá-los. Inútil. De que adianta as mãos se os pés continuam insistindo no chão frio que tanto rouba seu calor? Não adianta mascarar as coisas se não solucionarmos o problema no local onde ele, realmente, ataca insistentemente, de forma lenta. Talvez, mudar o contato ajudaria mas, mudar o chão seria mudar de realidade? Não importa, desde que não seja uma realidade mascarada!

Os pés se desgrudaram do solo e as mãos (agora como amigas e não máscaras) os ajudaram a se aquecer. Aos poucos eles foram adquirindo cor. As unhas uma coloração rosada. E , de forma lenta foram se estabelecendo e voltando a ser macios como anteriormente. Antes de regressar ao chão frio, porém, os pés tiveram o cuidado de se previnir e evitar que o gelado os prejudicassem, e eles puderam, enfim, caminhar sobre a realidade a partir de um ponto de vista diferente. Um diferente agradável, suportável...

terça-feira, 16 de março de 2010

Marcas Refletidas




A mulher estava estática em frente ao espelho. Analisava o seu rosto que há muito não reparava com afinco. Fios brancos e grossos haviam desabrochados no meio de seus sedosos cabelos negros. A pele que sempre foi maica e enrijecida, de tal forma que destacasse suas feições delicadas como um pêssego maduro, hoje pareciam escamas, rude e com grandes rugas que lhe deformavam as expressões. Olhou as mãos. Aquelas que, no passado, ao tocar as flores transmitiam-lhes mais beleza e perfume, agora, com o peso da idade, se tornaram frias e secas como galhos retorcidos de uma árvore do cerrado.

Ela não tinha mais aquele brilho no olhar que traduzia todos os sonhos de uma jovem mulher que fantasia amores, inventa segredos e colore alegrias. Seus olhos, agora, eram opacos e dissimulados, cercados por uma imensa olheira que lhe dava todo um aspecto frio, rude e sombrio de uma velha senhora sem sonhos, que vivia pacatamente à espera do dia em que, enfim, descansaria em paz.

-Em que espelho ficou perdida a minha face? - repetia sem parar ao não se reconhecer no vidro espelhado que encarava - Qual espelho? Com certeza não é esse!


Uma lágrima quente e ácida percorreu o seu rosto quando ela concluiu que o seu eu de antigamente ficou aprisionado no espelho do passado, da metamorfose, pois agora ela mudara. Só refletia o amargo, reflexo, esse, da desilusão que sua vida se tornara.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sob a brecha com Clarice

Ele era um rapaz alto. Cabelos cacheados sempre desarrumados. Usava óculos casualmente, mesmo que precisasse deles apenas para a leitura. A barba, sempre por fazer, escondia algumas espinhas que resolveram aparecer no final de sua adolescência. Um tanto magro, vestia-se cuidadosamente, mas de forma bem simples. Olhos castanhos claros, tão claros quanto o que era possível ler neles, a alma.

Hoje ele vestia jeans, um moletom cinza claro por cima da camisa de algodão verde pastel, e calçava um all star também verde. Estava sentado num banco de praça observando a manhã de um dia frio que passava demoradamente.

Ela era uma moça sorridente. Não muito alta e nem muito baixa. Cabelos cacheados sempre presos para trás. Usava óculos para a leitura, embora achasse que tirava o seu charme. A pele muito macia e cuidada com hidratante de maracujá. Tinha um aspecto doce e puro de uma mulher ainda menina. Magra, embora discordasse disso, vestia-se harmoniosamente, de maneira singela, mas sempre muito bem arrumada, o que a deixava ainda mais bonita. No pescoço carregava sempre um escapulário com o intuito de proteção e fé nas suas crenças.

Hoje ela vestia jeans, uma blusa de frio listrada preta e branco por cima de sua camisa de poliéster preta de um desing que combinava com sua personalidade meiga, e calçava um all star branco. Tinha acabado de sair do metrô e iria para o serviço, se não tivesse chegado no local meia-hora mais cedo. Decidiu esperar na praça lendo um de seus livros que sempre carregava consigo na bolsa.

Com as mãos unidas e refugiadas entre os dois joelhos ele sentia as pontas frias dos dedos irem se aquecendo, gradativamente, entre o algodão tingido de sua calça jeans. Umedecia os lábios com saliva, como de costume. O vento frio balançava seus cachos de cabelo castanho claro sobre a testa fria. Ele estava pensativo. Navegando entre o seu mundo paralelo e a realidade, ele pensava nos seus maiores anseios, desejos e perspectivas. No que esperava do mundo, das pessoas e, principalmente, dele mesmo. Taxado de fofo por alguns, romântico por outros, o moço do all star verde sentia, silenciosamente, tudo que o destinava essas denominações. O frio de seu corpo não interferia no calor de sua alma. Envolto de todos os sentimentos puros e pequenos prazeres ele queria um amigo, uma amante, alguém, alguém com quem pudesse repartir o que nele tinha em excesso. Alguém que precisasse rir, alguém para fazê-lo rir. Alguém pra ouvir suas bobagens, alguém para lhe dizer bobagens. Alguém para sentir, alguém que o sentisse. Alguém que ele completasse, alguém que o completasse. Ele só queria alguém, alguém tão puro quanto ele.

Com passos distraídos e sem muita pressa a doce moça caminhava pela praça pensando em todo o seu coração pulsante. Nos amores impossíveis, nos amigos distantes. Pensava nos momentos de alegria que teve e nos momentos de alegria que queria ter. Ela devaneava entre o mais puro e suave sentimento que dominava o seu ser e nunca fora totalmente compartilhado. Com a mão gelada, sagurou firme o escapulário do pescoço e, com toda a fé que tinha dentro de si, desejou que ao menos uma vez pudesse demonstrar e liberar toda a expressão de um sentimento inocente que a sacudia por dentro. Queria alguém, um amigo, um amante, mas um alguém que realmente a deixasse sentir tudo o que sua alma pedia. Ainda caminhando distraída, ela esticou seu braço e cutucou, cautelosamente, a pétala de uma rosa, como se quisesse sentir na forma mais natural que existe a delicadeza que, naquele momento, também dominava o seu ser.

Avistou o banco mais próximo, onde se encontrava um rapaz de cabelos cacheados inteiramente distraído em seus pensamentos. E caminhou em direção ao assento um pouco envergonhada, o que lhe era natural. Ao chegar pediu licença com a voz um pouco tímida para se assentar. Ele, surpreso com a presença dela, voltou subitamente à realidade e acatou o pedido, permitindo-a de se juntar a ele. Começou a observá-la com certa discrição. Viu-a tirar da bolsa um livro velho, provavelmente de sebo. Pensou ser um romance ou livro de contos e pensou em perguntá-la, porém a timidez era a sua pior inimiga. Demorou cerca de dois minutos pra criar coragem e finalmente disse:
- Romance?
- Como? - voltou-se a moça.
- O que você lê, é romance? - disse ainda com muita timidez.
- Ah não! Não é romance! - respondeu a moça um pouco envergonhada - São contos...Clarice, sabe quem né?
- Claro, claro! Adoro Clarice!
- Eu também, não tem como não gostar, acho! - argumentou a moça.
- Concordo! - sorriu o moço.

Ela voltou seus olhos ao livro sem conseguir prestar muita atenção no que lia. Pensava em alguma coisa pra perguntá-lo. Ele fazia o mesmo, fingia estar altamente entretido brincando com os dedos das mãos, mas não parava de observar os sons e o cheiro da bela moça ao seu lado. E, ficando mais corada do que de costume ela lhe disse improvisadamente:
- O dia tá frio hoje, né?!
Ele riu e respondeu:
- Está, mas no exato momento em que você chegou aqui o sol que se escondia entre as nuvens resolveu aparecer, olha!
Observando uma brecha iluminada recém aberta entre as nuvens apontadas pelo rapaz de cachos no cabelo, ela respondeu:
- Nossa! É verdade! Espero que o dia fique bonito, adoro a sensação de céu azul.
- Eu também espero! O céu sempre influenciou no meu humor! Normalmente dias claros me deixam mais alegre.
- Legal a sua relação com o céu - sorriu pra ele.
- Ele é a única coisa igual pra todo mundo que eu tenho certeza de que as pessoas já viram mais de uma vez na vida.
-Sim, ele iguala as pessoas.
-E as aproxima - sorriu.

Ela olhou as horas, estava atrasada para o trabalho. Despediu dele sem nem saber seu nome. Saiu apressada, quase correndo. E no meio da correria, pensava que talvez nunca mais o veria, se sentiu idiota por não ter trocado telefone ou pelo o menos o nome que ela não parava de imaginar. E antes de entrar no prédio do seu serviço, olhou para a brecha que agora mostrava um pedaço azul do céu e concluiu que mesmo sem nunca mais vê-lo, ela teria a certeza de que aquele azul tão igual pra todos era o mesmo azul que ele olhava. Ali ela o encontraria sempre. E, depois desse dia, ela nunca mais olhou pro céu sem pensar nele.

Sentado novamente sozinho no banco, ele a observava sumir por entre as plantas e postes da praça, levando consigo o perfume que ele nunca mais esqueceria. E quando ela finalmente desapareceu, ele olhou para o fundo azul que se formava no céu e sorriu docemente. Sentiu vontade de esticar os braços como a abrir as portas da alma para entrar mais um sentimento, o da esperança. E assim fez. Ficou por segundos com os braços abertos sentindo o frio vento enlaçar o seu corpo. Ao descansar, por fim os braços sobre o redor do banco percebeu que a moça que acabara de sair esquecera o livro de contos da Clarice. Pegou-o e leu curiosamente seu título: "Felicidade Clandestina". Não pensou mais nada, apenas sorriu e sussurou baixinho: Felicidade clandestina...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Para se aprender, passarinho.


Ele estava novamente sozinho, imerso nos pensamentos profundos de sua inquieta cabeça. Alguns amigos se encontravam pra conversar coisas que ele não podia ouvir, outros se divertiam sem se lembrar dele. Existiam, ainda, alguns que se lembravam mas, ou desmarcavam os encontros, ou o convidava para ir a lugares que ele não queria ir.


Deitado perpendicularmente à cama, de forma que as pernas ficassem ligeiramente dobradas e o joelho ao encontro do chão, pressionei minha cabeça no colchão, como se quisesse afundar todos os meus pensamentos que despencavam dentro de mim. Olhei para o telefone na expectativa de receber um telefonema com uma notícia boa. Olhei as horas. Nada. Nada me animava. A sensação de alguma-coisa-me-perturba não parava de martelar na minha consciência. Saber que eu sinto, mas que não posso expressar o sentimento massacrava o meu coração. Viver jogado de lado, como se minha presença, minhas opniões, ou simplesmente o fato de eu existir não fizesse a menor diferença destruía a minha alma. Estava perturbado, anulado e largado. Estava feliz e triste, amando e odiando, chorando e rindo, estava paradoxal, mas estava sendo eu mesmo. E, por mais que eu me rejeitava por não ser o que eu gostaria ser, eu me amava por ser do jeito que eu sou: diferente, especial e único. Não sou perfeito, mas sou o meu melhor hoje, porque amanhã é outro dia e outro grau de aprendizagem.


Arruma, desarruma, embola e desembola. Estava tentando organizar idéias, arranjar definições, procurar soluções. Contudo, a limpeza mental foi interrompida no momento em que um filhote de rolinha pousou na minha janela, na sua primeira tentativa de alçar voo. Observei-a atentamente e percebi o quanto estava assustada. Ainda não sei se foi por causa do voo, ou por causa da minha presença, apenas sei que foi o momento epifânico que me faltava. Um ser jovem que enfrenta as dificuldades do início de uma jornada da vida, mas mesmo com todas as dificuldades do início e os riscos de falhar, persiste sem fraquejar em busca do sucesso que tanto almejou. Se um dia ele será um vencedor? Só depende dele e de mais ninguém!


O passarinho caminhou de um canto a outro da janela até arriscar finalmente uma outra tentativa de voo, e dessa vez ele conseguiu.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Desafiando a gravidade


Sentei em uma daquelas coisas brancas e grandes que parecem ser muito confortáveis. Afundei quatro dedos nessa coisa e vi ela fluir como se nada estivesse ali. Resolvi então pegar um bocado e, com a mão em concha, suspendi na altura dos olhos uma porção de fumaça branca que foi, aos poucos, se tornando invisível. A coisa, com o tempo ia mudando de forma, se expandindo ou encolhendo dependia do vento que vinha de um canto bem distante trazer novos ares e levar os velhos. A coisa era uma nuvem. E eu estava desafiando a gravidade sem saber como. À minha frente e dos meus lados eu só via outras nuvens e um imenso azul celeste. Em baixo eu via a cidade grande que só me alcançava através dos gases poluentes que suas máquinas e seus carros mandavam em minha direção. Mas eu não me deixava envolver e continuava puro e desafiando a gravidade.




Com uma cara de não-sei-o-que-está-acontencendo-mas-pretendo-descobrir-o-mais-rápido-possível eu me levantei da nuvem e arrisquei subir n'outra que navegava por ali perto. Uma rajada fria e forte de vento me envolveu e me lançou fora do meu único apoio. Começei a cair e a ganhar velocidade. Mesmo em queda, eu continuava a desafiar a gravidade, e desafiar é para os poucos. A harmonia estava quebrada. A velocidade no seu ápice. O choque com o solo se aproximava. Mas, mesmo assim, eu tentava me tranquilizar até, finalmente, relaxar e poder dizer que não me importava, porque eu estava sonhando. E nos sonhos a gente toma o rumo que queremos tomar. A gente vai onde o nosso coração quer nos levar. E, mesmo em queda quem arrisca sonhar, desejar, desafiar a gravidade e acreditar no que quer, tem grandes chances de alcançar! A vida tem que ser recheada de sonhos. Além de ser um motivo pra dar mais prazer e graça, os sonhos são a inspiração da vida, o que preenche, colore e intensifica estes prazeres. "Poder" não é "querer", mas "querer" é acreditar no "poder". E, quem quer sonhar, pode realizá-lo.

Continuava a cair, e segundos antes de tocar o solo, acordei.