sábado, 9 de maio de 2009

Sábado, nem muito feliz...

O garoto corria. Não sabia se ia na direção correta, mas não parava de correr. Tinha medo. Virou à primeira esquina que encontrou e desceu a avenida com toda velocidade. Ao chegar no final da descida, já não possuia mais fôlego. Decidiu parar. Tirou das costas a mochila azul com duas listras pretas nas laterias. Abriu-a e vasculhou por uns instantes até que, finalmente, retirou uma garrafa de água. Bebeu-a quase toda. Sentou no meio-fio e esperou o seu corpo se recuperar da rápida caminhada. Passado alguns segundos decidiu continuar a correr, pois não tinha tempo. Ainda faltava muito para chegar e ele não podia se atrasar, não se perdoaria por isso. O seu futuro dependia desse encontro. Ele não parava. Já havia corrido dez quarteirões. Começou a chorar. Não ia dar tempo...Chegou!

-Com licença...
-Pois não?
-Você poderia me informar se o ônibus para São Paulo já saiu?
-Ele está quase saindo, se o senhor correr talvez consiga pegá-lo. O senhor já comprou a passagem?
-Muito obrigado! - gritou já de costas para a atendente -
-...?

Correu mais rápido ainda até o ponto de embarque e desembarque. Chegando lá, procurou uma pessoa. Não encontrou. Começou a desesperar. Sentou em um dos bancos e respirando fundo, tentou se acalmar.

-Marcos?
-Júlia!
-Marcos! O que você faz aqui?
-Preciso falar mais uma coisa com você!
-Mas, nós já conversamos tudo, não é?
-Nem tudo! Você precisa ouvir mais uma coisa...
-Desculpa, mas agora é tarde, tenho que ir...
-Não, não é tarde. Nunca é tarde. Você pode partir, mas tem que escutar o que eu tenho para te dizer. Você pode? É só isso que eu lhe peço!
-Está bem. Mas seja breve, tenho que embarcar.
-Júlia, veja aquela senhora de suéter verde com listras vemelhas. Veja como ela é sozinha. Ninguém a faz companhia. Ela está morrendo de solidão por dentro. Seus olhos nem brilham mais. Sua cara murcha e rugosa não consegue exprimir felicidade,nem um simples sorriso. Se é que ela lembra o que é sorrir.
-Onde você quer chegar?
-Olha aquele adolescente com seus irmãos menores. Ele se sente diferente. Ele se sente excluído. Sofre. Queria ser um jovem normal. Se preocupar com os estudos e sair com os amigos nos tempos livres. Não pode. Tem que tomar conta dos irmãos. Sua vida gira em torno disso. Não possui mais pais. Ele é deprimido.
-...
-Todos aqui sofrem. Todos foram descritos por uma caracterítica marcante. Uma característica, esta, que pode ser mudada, mas, no momento, está engalfinhada no interior de cada um, se sobrepondo. Apesar de tudo, essas pessoas são feitas de razões que as fazem sofrer e as fazem ser felizes. E eu não sou muito diferente disso. Queria que você soubesse, que eu não posso permitir deixar a razão que me faz feliz entrar naquele ônibus e sumir, indefinidamente, da minha vida. Eu te amo. Eu te quero. Vamos ser felizes juntos?

As portas do ônibus se fechavam. A rodoviária estava muito movimentada. As pessoas se cruzavam, esbarravam, gritavam, corriam, mas isso não importava para o casal que estava no centro daquele salão. O ônibus partiu.

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