sexta-feira, 26 de junho de 2009

Reservado...


- Quando eu crescer vou ser médico!
- Eu quero ser astronauta!
- Réporter!
- Secretária!
- Dentista!
- Ah...Professora!!
- Eu quero ser mecânico!
- Eu quero ser igual ao meu pai!
- Francês!
- Quê?
- É! Eu quero ser francês!
- Mas é impossível!
- Não é!


Desde pequeno existiam esses problemas. Ninguém entendia aquele garoto. Todos ao seu redor tentavam desestimulá-lo de alguma forma. Ele cresceu e estava na fase que o levava a escolher o que realmente seria. Médico, dentista, químico, não importa. Ele tinha que escolher. E para piorar, sempre haviam aqueles que não o apoiávam. Tentavam a qualquer custo destruir os sonhos dele.

- Eu quero ser ator!
- Ator?! Você não vai sobreviver com teatro! Filho meu não faz teatro!
- Mas...
- Por que você não tenta Medicina? Tem cara de médico!
- Eu não suporto ver sangue, quanto menos pessoas sentindo dores!
- Frescura! Vire homem!
- Eu não faço Medicina e pronto!
- Faça Engenharia então! Você tem cara de intelectual...Consigo te imaginar de engenheiro!
- Não sei...Talvez eu possa fazer Engenharia Química, mas...
- Então está ótimo! Faça engenharia Química!
- Eu gosto mais de Química do que de Engenharia Química!
- Qual a diferença? Engenharia é mais chique!
- E daí? Não me importo com esse tipo de beleza!
- Mas você gosta de Química, não é?
- Gosto!
- Então!
- Você não acha que eu interpreto bem? Tenho até caras e bocas!
- Eu não gosto de teatro!
- Ah...
- Química tem tudo à ver com você!
- Mas eu também quero o Teatro!
- Humpf... Bem, faça o teatro, mas faça depois! Você tem uma vida inteira Além de que Teatro não dá futuro! Faça-o como hobby!
- Hum... Tá bom... Farei Química - Disse o garoto com um ar de desânimo-.

Química. Ele amava essa matéria. Se sentia quase um Deus ao poder estudar as propriedades das materiais que compõe todo o universo e tentar manipulá-los, mesmo sabendo que são apenas suposições, algumas das quais que não podemos ver ou comprovar que, realmente, existe. Mas, o que o fazia sentir o verdadeiro eu era o teatro. Podia fingir ser o que quisesse, fingir ser o que nunca seria ou será, desde um cachorro até um Rei. Passar por situações engraçadas, difíceis, tristes, tensas,qualquer outra, mas sempre feliz por estar ali. Seria reconhecido ou lembrado por divertir os outros, emocioná-los. Viveria paralelamente em dois mundos: o real onde tudo é mais duro, e o fantasioso, onde suas vontades não tem limites, seus desejos são alcançados.

O menino cansou! Cansou da manipulação, das escolhas insatisfeitas. A partir de agora o que importava para ele era ele mesmo. Sozinho, com ou sem ajuda, não importa, é ele quem tem que construir a própria vida. Nada e nem ninguém irá impedi-lo de lutar pelos seus sonhos! Agora ele estava reservado para si próprio...


Um comentário:

  1. Que lindo, lindo, lindo! Acho que é isso mesmo. Ser o que se quiser. Com essa partícula apassivadora (será que eu ainda sei português?) que, muitas vezes, acaba é tumultuando as coisas, quando a vontade que está em jogo é do 'se', quando é nossa.

    Acho que vou me reservar para mim mesma, também...

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