domingo, 14 de junho de 2009

Sábado e mais uma descoberta...


- Um, dois, três e...
- Xis!
- Prontinho!
- E aí? Como ficou?
- Hum... Ângulo perfeito, mas o foco...
- Tenta tirar sem o zoom! Quem saiba ajude...
- Posso tentar! Vai pegar mais cenário, você se importa?
- De maneira alguma!

Posicionei a câmera nas mãos. Focalizei, cautelosamente, a mulher ao centro. Havia uma bela e árvore atrás dela. Era uma mangueira, mas sem mangas, não era época ainda. Quando diminui o zoom a foto foi perdendo sua intensidade. A moça foi engolida pelo cenário enorme do campo que a cercava. A árvore, por exemplo, chamava muito mais a atenção do que aquela mortal que nem parecia ter importância para a foto. Respirei fundo e..."Click". Tudo congelou. Pássaros que sobrevoavam a árvore estavam imóveis no ar. Os cabelos levados pelo vento da pobre criatura da foto flutuavam, também imóveis. Algumas folhas, que instantes antes de retirar a fotografia, haviam se soltado da árvore estavam suspensas no espaço, não demonstrando nenhuma força gravitacional as atingindo. Tudo estava em perfeito equilíbrio, mas imóvel. Tudo estava em repouso, com excessão a mim, que observava, perplexo, todo o meu redor. É como se o tempo do mundo parasse e o meu não. Não entendi o que se passava. Não fiz nada de mais, apenas o meu trabalho. Que é congelar cenas para se recordar durante a vida. Lugares que fomos, pessoas que encontramos, roupas que usamos, cabelos que pintamos, comemorações que fizemos! Para se ter lembrança de como fomos um dia, mais jovens. Nada de mais. Foi aí que, sem sentir a luz solar tocar minha pele me veio uma conclusão. Minha vida estava completamente assim: parada! Me confortei com o zoom, quando, na verdade, o mundo é muito maior do que cabia na fotografia. Estou perdido, sem caminho, desamparado. Passei uma vida toda sem perceber que o mundo é muito maior do que eu imaginava. Como a árvore. Eu sabia que ela existia, mas não percebia que o seu tamanho me ocultava. Tenho que observar mais as coisas ao meu redor. Tenho que pensar mais em mim, perceber quem me faz bem e quem me influência nessa vida. Se não eu fico assim, congelado no tempo. Sem viver minha vida e viver as dos outros. Percebi. Não vou errar mais. Vou continuar sendo eu mesmo, mas não permitirei ver ninguém me fazer mal. Não mesmo!

O vento soprou forte. Levei as mãos aos olhos para me proteger dos ciscos. Não enxerguei nada.

- E aí? Ficou boa?
- An? Ah! Espera! Deixa eu ver!
Parece que tudo voltou ao normal. Peguei a câmera e analisei a foto. Como eu imaginava. O cenário realmente destacou a imagem. Mas, algo me chamou atenção. A moça estava com um lindo sorriso estampado no rosto, com uma cara limpa e pura. Sim, há como ser feliz!

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