quarta-feira, 17 de junho de 2009

[Pesa]delo...




Era um corredor escuro. Cheio de janelas e portas, mas todas fechadas. O corredor era enorme e empoeirado. Deviam fazer dias, ou mesmo meses que não ia ninguém ali. Finalmente cheguei ao seu final. Havia uma grande, longa e velha escada de madeira. Caminhei até o corrimão e passando, levemente, o dedo sobre a poeira que ali se encontrava senti um estralo na mente, e me perguntei o que fazia ali, no meio de um prédio aparentemente abandonado. Como eu havia entrado ali? Nem eu sei. Subi, então, as escadas velhas até uma janela que se encontrava no piso intermediário entre o primeiro e segundo andar. Segurei em uma das tábuas que impedia a luz solar entrar por completo naquele ambiente. Arranquei-a e senti uma intensidade enorme de luz preenchendo aquele enorme espaço. Junto com a luz me veio um esclarecimento importante: Eu já estive nesse lugar antes. Este antigo castelo abandonado nada mais é do que minha antiga escola. Um colégio que foi construído em forma de uma réplica de um castelo europeu. A escada de mandeira veio da Espanha. As janelas imitavam os formatos das janelas grega e alemães. Quem o construiu era um padre alemão. Inicialmente era um internato para homens, mas com o passar dos anos se tornou uma instiruição privada de ensino para qualquer sexo, raça ou cor. Mas, hoje a escola estava em pedaços.


Com muita curiosidade, continuei a subir as escadas até o último andar. Como em um filme, me veio todas as lembranças das manhãs em que eu subia, devidamente uniformizado, até aquele andar e virava à esquerda, onde entrava na primeira sala, também do lado esquerdo da parede. "Número 317" - Lembrava bem!-. Caminhei até essa sala e ao abri-la, pude observar um ambiente com cadeiras amontoadas em um canto, janelas fechadas e escondidas atrás de cortinas altamente empoeiradas e velhas. O quadro estava manchado. Havia um dos quatros ventiladores jogado ao chão. O teto, que era de "isopor"- Pois era revestido de um material sintético que se assemelhava muito ao isopor, então na minha época, os meus colegas de classe usavam essa denominação-, estava destruído e sujo, dando para ver o telhado. A minha janela preferida estava ao fundo. A última. Gostava dela por, quase nunca, possuir um aluno ao seu lado. Além de que, um dos meus melhores momentos se passou ali, olhando para o céu através dela. Resolvi ter, mais uma vez, a imagem que tanto me confortava daquele ambiente. Ao chegar perto, um cheiro forte e característico dominou o ar. Senti náuseas, mas continuei em frente. Ao puxar a cortina me deparei com um corpo humano, apodrecendo, esticado sobre a carteira ao lado da janela. Senti minhas pernas bambas e um nojo enorme. Antes de virar e sair dali à procura de ar fresco pude perceber um detalhe que me paralizou. Arregalei os olhos e senti um frio interno. Caí de joelhos ao chão e com as mãos na garganta não consegui mais respirar. As lágrimas corriam pelo meu rosto, e junto a elas, mil pensamentos em minha mente. Não pude acreditar, não quis acreditar, mas eu via. Via que o defunto era eu. Eu havia morrido sobre a janela que tanto me confortava. Eu estava morto provavelmente há anos! Anos de vida dependente. Anos à procura de conforto; conforto este, que nunca procurei em mim. Talvez por não acreditar em mim. Talvez por não saber viver. Será que há alguma maneira de ser eu mesmo? Será que é tarde? Será que tenho como reparar meu erro? Nesse momento uma faixa negra se formou no chão onde pisava me circundando. Corri até a janela para fugir dessa agonia e me atirei. Não sentia dor, prazer, nada. Apenas um vazio...


Acordei. Ainda com aquele pesadelo em mente e com o cheiro podre no nariz , pensei: "Não é tarde!". Levantei e fui para o colégio...

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