quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Universos paralelos

Eu achava não estar num dos meus melhores dias, sem saber mais tarde que aquele seria de longe, um dos melhores.

Conhecer pessoas sempre foi uma das práticas da convivência humana que mais admirei. Esse lance de afinidade e empatia é algo bem subjetivo que vai muito além do conhecimento das características do outro, às vezes se dá antes mesmo desse fato ocorrer. É algo de alma, completamente inconsciente, que simplesmente ocorre quando olhares se cruzam ou quando alguém é observado. Espíritas afirmam que tem haver com vidas passadas. Pessoas que conviveram juntas em situações que, de alguma forma, se registraram na alma. Registros, estes que se dão por sentimentos ou mesmo admiração. O curioso de tudo é que, independente da origem ou explicação, a empatia realmente ocorre e influencia no grau de convivência. É como se determinadas pessoas que me conheceram há 15 minutos se mostrassem mais íntimas que amigos que conheço há 7 anos, por exemplo.

Foi mais ou menos isso que senti quando te olhei pela primeira vez. Sentado naquele sofá de couro rasgado te vi caminhando sozinho até a cadeira um pouco mais alta que as normais, onde mais tarde você derramaria o suco de uva em mim. Nunca tinha te visto na minha vida, nem sequer sabia seu nome. Mas senti, lá no fundo, que de alguma forma te conhecia. Criei coragem e fui atiçar mais ainda a minha sede em, de fato,te conhecer. Nunca fui uma pessoa muito boa para começar um diálogo sem um assunto ou interesse de relevância para o mesmo, sem parecer um tanto oferecido ou forçar certa intimidade invasiva. Portanto me contive na minha timidez exacerbada enquanto observava o diálogo se desenrolar entre você e minha amiga, esperando a brecha certa para me inserir no mesmo de forma natural e não muito exagerada. Foi quando você se abriu pra mim. Quando trocamos nossas primeiras palavras a timidez foi aos poucos cessando e a sensação de empatia foi crescendo a ponto de que, quando menos esperasse, já estava te beijando. O mais diferente de tudo isso é que desse momento em diante não nos comportamos como pessoas que acabaram de se conhecer, mas como pessoas que já se conheciam. Parecíamos namorados e não um casal de ficantes. Devemos manter a calma, os pés no chão, pensei o tempo todo, mesmo me comportando como se você fosse o meu primeiro beijo. Mas independente disso, daquele dia em diante você começou a me marcar.

Outro fato interessante da convivência humana é isso. Cada pessoa é um mundo, cheia de particularidades e manias que reunidas a torna um ser único. Conviver com pessoas é conhecer um pouco dessas particularidades. É conhecer mundos diferentes que se acrescentam no nosso mundo. Se apaixonar é gostar intensamente, logo de cara, das peculiaridades desse mundo novo. Amar, é quando mesmo com inúmeras características negativas doloridas, as positivas, mesmo que poucas, presentes nesse universo que não é nosso se tornam grandes agentes responsáveis por embelezar e dar alegria ao nosso próprio mundo. É como a fusão de duas realidades que se acrescentam, que se desafiam, que se sustentam. E que, acima de tudo, se relacionam.

E assim, aos poucos tenho me permitido conhecer as propriedades do seu universo paralelo. Características suas e de mais ninguém que, aos poucos, vem me encantando e despertando em mim algo tão puro e bom. Vejo nossos mundos se combinarem, se misturarem sem perder a essência que continua permanecendo dentro da gente. A sensibilidade do pisciano com a euforia do sagitariano. A sua ansiedade quando não te contam na hora o que tem para ser dito, com a minha timidez em dizer claramente as coisas que quero. Sua mania exótica de tomar sorvete, com a minha de comidas italianas. Sua mania frenética de morder tudo, com a minha de mordiscar meus próprios lábios. Sua cisma com o tamanho do seu nariz e a minha com a dificuldade de engordar. O seu piercing no mamilo e os meus óculos alternativos. O seu trauma de cuidar de crianças no ônibus e o meu de ser babá no metrô. Você que fará Direito e eu que faço Farmácia. Você que tomou suco de caju e eu que tomei de amora. Você que não gosta de filme legendado e eu que não gosto de dublado. Seu beijo que tem gosto de maracujá e eu que tenho mania de sentir gosto de fruta nos beijos. Sua mania de procurar redundância nas frases e as minhas expressões engraçadas. A nossa mania de reparar a boca das pessoas. A gente que prefere Subway do que Mc Donald's. Nossa mania de dizer "te cuido" ao invés de "se cuida". A gente que gosta de se vestir bem, mas não liga pra roupa de marca. Nosso medo de dormir em hospital. A gente que prefere frutas vermelhas. As nossas manias de sermos desastrados. Nossa mania de comida temperada e café forte. A gente que ama nossos animais de estimação. A nossa mania de não jogar lixo na rua e detestar que faz isso. A gente que prefere filme nacional. A gente que acabou de se conhecer, mas que sentiu que se conhecia há muito tempo.

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