terça-feira, 7 de julho de 2009

Em que mundo?


"Celular vendo, troco e desbloqueio celular!"
"Mega-sena acumulada pra hoje! Dez milhões a mega-sena pra hoje!"
"Compro ouro!"
"Alça de silicone para sutiã"

O centro da cidade estava vivo. Pessoas corriam atrás do sustento para cada dia. Uns atropelavam os mais lerdos, outros disputavam aos berros os seus anúncios. Quem, apenas, passava ali corria na calçada sem se importar com o que diziam. As lojas esmagavam os consumidores com anúncios e ofertas de seus produtos. Outras procuravam chamar atenção com músicas ou um locutor dos preços no microfone. Homens e mulheres carregados de sacolas e preocupações. Alguns comentavam da vida alheia, outros do cansaço no trabalho, e ainda tinham aqueles que, apressados, nem se quer abriam a boca. A cidade fervia. O desespero econômico de país subdesenvolvido misturado com a heterogeneidade social dominava todo aquela área comercial. Todos os seres humanos ali presentes estavam em sintonia.

Sintonia com a euforia consumista e capitalista. Todos, exceto um.

Um que observava tudo, silenciosamente, sem se incluir no meio de toda aquela aflição. Talvez ele tenha sido o único, no meio de tanta gente, que reparou atentamente no passarinho que procurava alimento perto do carrinho de pipocas, estacionado em frente ao ponto de ônibus, para alimentar seus filhotes no ninho que se encontrava no alto da árvore logo ali em frente. Talvez era o único que não permitia todo aquele agito perturbar a sua serenidade interna. Ele estava em paz e de bem com a vida. Olhava para o nada e sorria pra ninguém. Pisava levemente no solo como se fosse algodão. Sentia o ar mais fresco e puro. Balançava o corpo como se não existisse atrito. Por mais rodeado de poluição sonora que fosse, escutava apenas o silêncio ou a voz do coração, da alma.

Olhou carinhosamente para os lados antes de atravessar a avenida, e sentindo o ritmo de suas pisadas na faixa de pedestre nem reparou no ônibus que atravessou o sinal vermelho indo se chocar de frente consigo, não sentindo nem a dor da morte.

Assim o sistema quer funcionar: excluir aqueles indivíduos que fogem das regras e eliminar, por seleção natural, os menos adaptados à esse sistema. Mas, sabemos que há formas de alcançar a, até então, utópica felicidade sem precisar fazer parte deste método: " Faça o que o mundo manda, mas não seja o que o mundo é!"
Viva da maneira que achar correto, buscando sempre a sua felicidade, mas sem prejudicar a dos outros.

"Celular vendo, troco e desbloqueio celular!"
"Mega-sena acumulada pra hoje! Dez milhões a mega-sena pra hoje!"
"Compro ouro!"
"Vendo alça de silicone para sutiã"

Um comentário:

  1. e o mundo vai, nessa roda-viva, roda-gigante..

    Ah, lembrei da aula, lembrei do centro, lembrei da improvisação no palco, lembrei que preciso de sutiãs...
    Lembrei que o mundo a gente vive do jeito que vive, na gente, a essência -sum, o ser das coisas.

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