terça-feira, 15 de março de 2011

Colorindo sentimentos




A mão quente apertava bem aquele pedaço de madeira recheado. O recheio sólido do material de madeira era largado para trás no pedaço do papel à medida que a mão dançava no ar. O branco deixava de ser branco. A cor ia dominando todo aquele espaço pré-determinado, dando ao papel outro significado, um contorno, um desenho. A mão largou o lápis e pegou outro de recheio diferente. Quanto mais a mão dançava, mais as cores se misturavam. A intenção daquilo tudo estava se tornando, à medida do tempo, mais evidente, sublime. A representação de algo começava a se despertar no papel. Creck! A ponta daquela magia toda foi arremessada há uns 20 centímetros de onde estava a mão. A força do recheio que traz cor ao papel foi tão grande sobre o mesmo que, ao mesmo tempo em que possuíam tanta afinidade, possuíram enorme repulsa. O papel cansou do lápis. O lápis cansou do papel. O desenho estava inacabado e também estava pronto. Não havia mais nada que se pudesse fazer. Até que: Rock, rock, rock. Um material plástico quadrado usava de toda a sua dinâmica para restabelecer a mágica do pedaço de madeira. Parecia milagre, mas não era. Tudo tem um preço: À medida que haviam crises entre o papel e o recheio mágico, menor ficava o lápis, até chegar o dia em que escoaria toda aquela magia de colorir as coisas.


Esse era o retrato que dominou meus pensamentos durante a tarde. A arte do colorido funciona assim. De maneira análoga funciona a dinâmica da vida. A mão seria os ideais, o lápis o amor, o papel o amante e o apontador os obstáculos. É preciso cautela e sintonia para que tudo termine num belo desenho, para que o tempo possa construir e colorir as coisas, de forma que o desenho se finalize sem a necessidade de se extinguir o lápis. Essa é a arte da vida, a arte do amor.


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