quarta-feira, 19 de maio de 2010

A menina do laço de fita

Ela era baixa. Usava um vestidinho de chita branco e azul, daqueles de ir em batizado de primo e uma fita azul celeste no cabelo chanel e extremamente liso. Um sapatinho preto de fivela envolvendo a meia de rendinha branca feita à mão pela avó a deixava impecável, feito aquelas bonecas de porcelana que a mãe brincava quando criança.

A menina era pura, completamente pura. E sua pureza era tão grande que parecia um crime ela existir nesse mundo que tem se mostrado tão sujo. Mais do que pura, ela era única. E mesmo possuindo falsas cópias, elas não passam de cópias vazias. Vazias ao ponto de carregarem a mesma aparência e até o mesmo nome, mas uma essência super diferente. E todas elas, a verdadeira e as falsas, realmente existem. A menina de fita azul no cabelo e todas as outras que tentavam ser como a primeira eram reais e viviam num jardim.

Jardins são bonitos e misteriosos. Mas, por mais que sejam belos, eles não são tão puros como a minha menina. E essa impureza é mascarada. As plantas, por exemplo, se desenvolvem devido a matéria morta que se fundiu à terra. Crescem do podre abandonado pelos seres ao morrerem. O que se desenvolve dos restos não pode ser puro, pois se os seres quando morrem abandonam o corpo é porque na carne não está a verdadeira essência, entende? A carne serve de barreira. O essencial transcende o corpo, está na alma.

O jardim é o local sujo onde a menina vive sem se deixar influenciar pela sujeira. Porém, nele também é encontrado inúmeras outras falsas cópias dessa menina que se deixaram, consciente ou inconscientemente, influenciar pela sujeira. São meninas sem essência, sem um verdadeiro significado que as tornem dignas de existirem.

A garotinha de que tanto falo tem um vestido de chita branco e azul, sapato de fivela e meia de rendinha. Essa menina tem uma fita azul celeste no cabelo. Essa menina vive num jardim. Essa menina possui falsas cópias. O jardim representa o mundo. A menina representa o amor verdadeiro. E as falsas cópias representam o falso amor que predomina no mundo.

Um comentário:

  1. own. gnomo. o desfecho. *.*

    embora eu acredite que não seja sujo o que alimenta a vida, ou o que componha o mundo. pra mim há um amor cósmico que rege tudo isso, e cada ente tem seu lugar preciso no universo. A matéria morta que alimenta planta, que alimenta bicho e gente, que realimenta a terra, nesse ciclo, é puro por permitir que nossa 'essência' habite este lugar e creça.

    Mas a críticas das 'cópias' e o final, e gnomo.

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