segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

No meio das flores...

O coração, às vezes, quer nos dizer certas coisas e nos fazer sentir outras. Encontrando ou até pensando em determinadas pessoas que fazem parte da minha vida uma fechadura se destranca dentro de mim, libertando, para que o mundo veja, tudo o que eu sinto e não cabe em mim e que é proporcionado por essas pessoas. Uma dessas coisas é o amor. E eu não meço amores, simplesmente amo. Amo amores diferentes, sinto coisas diferentes.

- Preciso falar com você...
- O que foi, meu amor? Pode dizer, estou te ouvindo! - respondi sentando no banco ao lado dele. Apoiei as mãos nos joelhos, encarei-o nos olhos e dei um doce e macio sorriso esperando-o dizer o que tinha para falar.
- Eu tenho achado que...er...estamos um pouco...um pouco estranhos - desviou o olhar e disse um pouco desconsertado. Encarando uma formiga que carregava com dificuldade um pedaço de folha um pouco maior do que ela, acrescentou: Acho melhor a gente terminar!
- Terminar? Mas, não tem nada de errado! A gente se ama, não é?
- É que...
- Eu te amo! Você duvida?
- De maneira alguma! Não duvido do seu amor!
- Então o que é? - disse enquanto me esforçava para controlar os soluços que vinham como uma onda de baixo para cima do meu tórax e me esforçando para que as lágrimas, que embaçavam a minha visão, permitissem encarar com seriedade os olhos dele.
- Sou eu - levantou-se do banco, lançou-me um olhar de piedade e acrescentou: acho que não te amo mais. Não da forma como amava, não queria terminar assim, mas...
- Mas? - As lágrimas já desciam queimando pelo meu rosto. - Mas? Diga!
- Encontrei outra pessoa! Sinto muito... - passou rapidamente a mão na minha cabeça que agora se encontrava entre os meus joelhos e saiu andando para o velho e enferrujado portão de grades.

Inclinei a cabeça de forma a permitir que apenas os meus olhos saíssem do refúgio dos meus joeolhos e me vi abandonado, sozinho, entre as flores do grande jardim.

Eu não meço amores, simplesmente amo. E foi amando assim que, um dia, eu achei que havia encontrado o grande amor da minha vida. Doce ilusão, nem todo mundo está preparado para receber essa intensidade de amor que dispomos. E isso pode ter feito com que eu, de início, desconfiasse do amor. Da capacidade de amar. Da capacidade de ser amado. Mas, três meses se passaram, três meses de intensa dor no peito. E eu me encontrava, novamente, no canteiro das flores regadas com minhas lágrimas. E, ao contrário do que eu esperava, eu me sentia leve, tranquilo e em paz. Então percebi que o coração pode ser forte, que ele pode amar novamente. Senti amor pelas flores, amor pelo jardim, amor pela vida. Conclui que, mesmo o tombo sendo grande, a dor insuportável, o amor pela vida, o amor verdadeiro me renovou e eu estava pronto para amar novamente. Pronto para ser amado. Pronto para deixar esse sentimento que tanto me preenche dominar o meu eu. Mesmo sabendo que posso me decepcionar novamente, não desacreditarei no amor, porque o que eu senti foi verdadeiro. Eu amei de verdade. E se me perguntarem se há vantagens em ser romântico, eu direi que sim. Mais vantagens do que desvantagens. Ser romântico é sim sofrer, às vezes, com desilusões. Mas, a vantagem de ser romântico é manter o coração sempre puro e intacto. E amar com intensidade as coisas da vida, pra vida inteira. É sofrer e se recuperar. Ser romântico é amar a cada segundo tudo de bom que o mundo tem a oferecer, e criar força do fundo do poço para continuar amando. É acreditar no amor mesmo que te provem que ele não existe. Sem amor, a vida fica sem graça. Sem amor, a vida perde o brilho. Sem amor, a vida perde o sentido. E o romântico tem sempre um motivo pra continuar vivendo: o amor.

Pássaros cantavam próximo à fonte de pedra, onde a água caía em ritmo suave. Uma pequena joaninha pousava sobre a margarida que eu segurava entre os dedos. E então eu percebi que o jardim vivia...

8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Concordo plenamente!
    "romântico tem sempre um motivo pra continuar vivendo: o amor."

    Adorei o seu blog. Já li todos os textos e estou aguardando os próximos.

    Um abraço pra ti caçador de insetos!
    xD

    Luh

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  3. As dores demoram a serem curadas, mas quando elas curam não vão nos ferir mais... (:

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  4. Gracinha essa parte final do texto! :)

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  5. Bom dia, Carlo.
    Querido, uso as palavras de Clarice Lispector em Água Viva, dois fragmentos, para comentar o seu texto tão vivaz e cheio de significados:
    “E eis que sinto que em breve nos separaremos. Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão. Que às vezes se extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu nome em segredo. Preciso de segredos para viver.”

    “O jasmim é dos namorados. Dá vontade de pôr reticências agora. Eles andam de mãos dadas, balançando os braços e se dão beijos ao quase som odorante do jasmim.”

    O curioso é que hospedei no meu blog – Debaixo das Asas – um texto com o mesmo teor que o seu. Fica aqui o convite para você dar uma espiadela por lá.

    Um abraço. Um beijo.

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  6. Fazia tanto tempo q não passava por aqui q tinha me esquecido de todo o encanto e como suas palavras parecem sinceras!!! Existem memso muitas vantagens em ser ormantico! ^^ Mas isso é só para os corajosos!

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  7. Nossa! Amei, amei, amei!
    Teus textos são lindos, doces...

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  8. O amor.
    O seu amor aqui. Descrito. Merecedor de respeito.
    De encantos. De Aplausos. De Silêncio.
    Sua descrição íntima me faz acreditar que; o que o coração amou permanece eterno, no próprio amor e na vontade de amar.

    Costumo dizer, que o amor é uma decisão.
    Não peço a aceitação da frase.

    E Bem aqui. Vi um personagem tão vivo... dentro da vida de tantos, que vi e vejo por aqui.

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