terça-feira, 16 de março de 2010

Marcas Refletidas




A mulher estava estática em frente ao espelho. Analisava o seu rosto que há muito não reparava com afinco. Fios brancos e grossos haviam desabrochados no meio de seus sedosos cabelos negros. A pele que sempre foi maica e enrijecida, de tal forma que destacasse suas feições delicadas como um pêssego maduro, hoje pareciam escamas, rude e com grandes rugas que lhe deformavam as expressões. Olhou as mãos. Aquelas que, no passado, ao tocar as flores transmitiam-lhes mais beleza e perfume, agora, com o peso da idade, se tornaram frias e secas como galhos retorcidos de uma árvore do cerrado.

Ela não tinha mais aquele brilho no olhar que traduzia todos os sonhos de uma jovem mulher que fantasia amores, inventa segredos e colore alegrias. Seus olhos, agora, eram opacos e dissimulados, cercados por uma imensa olheira que lhe dava todo um aspecto frio, rude e sombrio de uma velha senhora sem sonhos, que vivia pacatamente à espera do dia em que, enfim, descansaria em paz.

-Em que espelho ficou perdida a minha face? - repetia sem parar ao não se reconhecer no vidro espelhado que encarava - Qual espelho? Com certeza não é esse!


Uma lágrima quente e ácida percorreu o seu rosto quando ela concluiu que o seu eu de antigamente ficou aprisionado no espelho do passado, da metamorfose, pois agora ela mudara. Só refletia o amargo, reflexo, esse, da desilusão que sua vida se tornara.

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