segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Chuva de primavera


A chuva, fina, caía lentamente sobre o negro asfalto, realçando ainda mais a sua cor. Escorria por entre as pedras e rolava rua abaixo. Ouvia-se o som das gotas tocando as folhas das árvores e lataria dos carros como uma sinfonia naturalmente arranjada. Passos apressados esmagavam poças, ricocheteando a água para todos os lados. Eu estava parado no meio da rua admirando o meu reflexo no escuro e molhado asfalto, atento para a luz refletida pela água superficial daquele solo. As gotas que caíam do céu rolavam por entre os cachos do meu cabelo até atingir a superfície frágil da minha cabeça. Umedeciam lentamente a minha roupa e o meu corpo. Frio. Aquele cheiro de chuva impregnava as minhas narinas. As gotas agora viravam filetes de água que escorriam pela minha face até se acumular no queixo em uma grande gota e cair sobre o meu colo. Cada gota que se desprendia de mim levava consigo uma mágoa, uma dor, um passado. A chuva lavava o meu corpo, mas principalmente a minha alma. A água que fluia no meu rosto se confundia com as lágrimas que saíam dos meus olhos. E chorei como um menino. O menino que cresceu, mas que ainda tinha um brilho de inocência nos olhos e um gostinho salgado na boca.

2 comentários:

  1. Carlo

    é bom saber que tens um blog. 'inda melhor é tomar ciência que escreves tão bem!

    Querido, palavras aqui expressam e interpretam muito: realssando; ricocheteando; cachos; filetes...

    Quando li ‘cachos’ pude imaginar com precisão seus cabelos molhados! ^^

    Lendo ‘Chuva de Primavera’ pude lembrar-me de um texto que escrevi chamado ‘Chuva íntima’:

    http://yaagob.blogspot.com/2009/02/chorando-na-chuva.html

    Eu, assim como você, já fiz meu choro na chuva.
    Um abraço, rapaz.

    Irei adicionar seu blog nos meus favoritos.

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