sábado, 10 de outubro de 2009

Nosso catedral

Por Lívia Miranda e Carlo Lanzetta



"Olha filho! O avião está fazendo um círculo!", disse a mulher de meia idade apontando para cima. "Não é um círculo, mamãe. É o elo que liga as pessoas distantes. É o portal encantado que une corações através da imensidão azul. É onde encontramos os sentimentos puros!".

A mãe olhou atenta para o garotinho que agora caminhava em direção a árvore e disse: "Onde você vai?". O menino virou o rosto e com um largo sorriso na face respondeu: "Vou sentir esse momento com mais perfeição. Quero respirar ar puro. Quero me sentir leve. Por que você não vem comigo? Há espaço no céu e no coração!".

A mãe pensa dois segundos e diz: "Filhote, um dia você vai perceber que há coisas que deves fazer sozinho. 'Dois às vezes é um número demasiado grande. Só você pode por ar em seus pulmões. Posso soprá-lo para você, mas vais inspirá-lo por si só".

Os olhos oblíquos do pequeno agora brilhavam intensamente. O vento que soprava seus cabelos empurrava sua alma. O ar levemente úmido purificava o seu coração. O menino se embebedava em esperança quando disse: "Eu sou livre! Sou livre para amar. Livre para viver!".

Uma criança, pensou a mãe, tão pequeno e tão meu. Não. Não é meu. "Sim, meu bem você é livre!", suspirou. Ela também podia sentir a Esperança naquele momento. Como se o toque do vento revigorasse. Talvez, mais que isso, como se o toque do vento curasse as feridas que, por conhecer, gostaria de evitar que seu frágil amor sentisse. Poderia ela?

Aquela sensação desencadeou um estranho momento epifânico naquela mulher. Com os olhares apagados para o mundo externo e radiantes para o seu interior, ela traduzia cada setimento seu que passou a vida inteira escondendo. Era como se os raios dos olhos iluminasse as trevas que impregnavam aquele pobre coração. Respirava profundamente. Cada vez que inspirava ela dava em seguida uma expirada que levava para fora dela mais do que monóxido de carbono, levava mágoas que antes estavam aprisionadas em cicatrizes internas.

Cicatrizes. Uma vez ouvira que cicatrizes são como marca-páginas: se houver um, você sempre vai saber por onde recomeçar. Diante disso, respondeu sua própria pergunta. Não. Não poderia evitar. Ele já sentia a Liberdade e para provar dela deveria cair. E se machucar. E levantar sangrando. Mas até o sangue cessa. "Que lindo campo! Vou correr! Me deixa correr? Só hoje?! Só agora! Prometo não ir longe!"

"Você sempre pode. Voe." E em seguida com as pernas bambas, lágrimas nos olhos e respiração ofegante, a mulher corria à toda velocidade por aquele perfeito campo. Corria com passos largos e fundos que amassavam a grama fofa deixando para trás a sombra de um rastro de alguém que já sentiu o amor, que já sentiu as dores do amor e que agora, mais do que nunca, sentia a vida. E era em busca de seus sonhos que ela corria. Ia em direção ao portal encantado que unia corações: o amor verdadeiro.

Um comentário:

  1. Nossa sim!
    Eu deixo você correr, se vc voltar pra mim!
    Queria poder nao deixar vc se machucar...mas vc vai se recuperar. O vento vai te curar.
    Eu te amo. Um beijo.

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