
O céu escurecia. Não era a noite que se anunciava, mas uma nuvem cinza gigantesca dominava todo o espaço azul por cima da Chácara. O vento chacoalhava as folhas das grandes árvores daquele jardim, emitindo um zumbido característico. Nina se encontrava perto do canteiro de violetas. As flores eram o seu refúgio. No meio delas Nina se descobria. Via as flores e via seu coração. Sentia o cheiro e sentia-se viva. Sentou-se na terra macia sem se importar em sujar o vestido. Ficaria ali indeterminavelmente, não se importava com o tempo que fechava. Tocava, delicadamente, as pétalas da flor como se carinhasse um coração aveludado. Fechava os olhos de forma a sentir mais presente aquele sentimento. "Violetas são tão delicadas e sensíveis quanto a senhora, Nina", dizia o jardineiro.
O céu se encontrava completamente cinza. Trovões pertubavam o silêncio que habitava aquela região da Chácara. As primeiras gotas começavam a se desprender das nuvens. E, em tão pouco tempo a chuva tomava vida. Nina, no entanto, continuava sentada perto das violetas. Betty, a governanta da casa, chamou-a várias vezes, receando a possibilidade de sua patroa pegar um resfriado. Mas ela não ouvia, ou não queria ouvir.
Ainda com os dedos entre as flores, Nina ergueu sua cabeça para cima de forma a permitir que a chuva molhasse diretamente o seu rosto, como as flores que eram lavadas com tanta intensidade. Não queria sair dali. Estava mais do que se molhando, estava lavando a alma.