segunda-feira, 19 de abril de 2010

Descalço no caminho


Os dedos brancos, limpos e úmidos entravam em contato com o também limpo, mas ríspido chão frio. Contato entre os pés e o solo. Delicado e rude. Com passos macios cada vez mais intenso o calor gerado pela corrente sanguínea dos pés era passado constantemente para o chão frio. A cada segundo as superfícies macias dos pés se tornavam mais frias e como consequência as células se enrijeciam dando um aspecto mais petrificado a eles. Gelado. Em questão de minutos eles estavam todos dominados. Porém, a corrente sanguínea que os preenche é contínua e a fonte de calor nunca acaba. O frio desanimava os passos que minguavam ao passar do tempo. Mesmo não sendo tão forte, ele desarmava os pés e sua vontade de ser quente, e a sensação subia sistematicamente das pontas dos dedos até as canelas.

As unhas estavam adquirindo um aspecto roxo, a pele ficava mais branca, mais clara. O conjunto como um todo se tornava mais sólido. Frio. Sem perceber e de forma automática, os pés já caminhavam mais lentamente e sobre as pontas de seus dedos, de forma a diminuir a superfície de contato. O sangue continuava persistente circulando pelo corpo e tentando regulamentar a sua temperatura. O frio se tornava insuportável. Os pés pararam. As mãos desceram para tentar auxiliar o aquecimento, doando um pouco de suas energias para esquentá-los. Inútil. De que adianta as mãos se os pés continuam insistindo no chão frio que tanto rouba seu calor? Não adianta mascarar as coisas se não solucionarmos o problema no local onde ele, realmente, ataca insistentemente, de forma lenta. Talvez, mudar o contato ajudaria mas, mudar o chão seria mudar de realidade? Não importa, desde que não seja uma realidade mascarada!

Os pés se desgrudaram do solo e as mãos (agora como amigas e não máscaras) os ajudaram a se aquecer. Aos poucos eles foram adquirindo cor. As unhas uma coloração rosada. E , de forma lenta foram se estabelecendo e voltando a ser macios como anteriormente. Antes de regressar ao chão frio, porém, os pés tiveram o cuidado de se previnir e evitar que o gelado os prejudicassem, e eles puderam, enfim, caminhar sobre a realidade a partir de um ponto de vista diferente. Um diferente agradável, suportável...

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